A idiotização na prateleira

Sirvam-se à vontade… Ao gosto do freguês, um menu preparado para agradar a todos sem exceção. Esqueça o idiota clássico sentado apático frente a uma televisão recebendo a mensagem e repetindo-a sem reflexão. O idiota que existe nos homens e mulheres que nos tornamos quer interagir ao máximo com as idiotices que estão por aí, ser parte do processo da construção das mesmas e, de certa forma, dono daquela besteira capaz de levar embora o que temos de mais precioso; não a bateria, mas o tempo que nos é consumido.

O comportamento de uma manada afoita e sem vínculos profundos, a necessidade de fazer parte a qualquer custo de um movimento, de experimentar aquilo de que falam, não só uniformiza a idiotice coletiva ou joga luz no quanto somos cotidianamente colonizados por todos os lados… Ela expõe um ser humano cada vez mais fraco e sem a menor capacidade de resistir às tendências, caçando fantasmas inexistentes, empenhado em desafios virtuais, travando batalhas fictícias e sem um retorno justificável no final. É diversão ou alienação?

Para não dizer que não falei explicitamente do Pokémon Go

Quando fui apresentado ao trabalho de ativistas sírios, que aproveitaram a febre do aplicativo Pokémon Go para fotografar crianças do país pedindo para serem salvas da guerra que há mais de cinco anos os assola, entendi que a ordem de prioridade e urgência está mesmo  invertida. É óbvio que entrar em um aplicativo e caçar personagens em nosso bairro é muito mais fácil (seguro?) do que envolver-se  em um grande conflito… Mas quisera perdêssemos um tempo parecido tentando entender o que se passa lá naquele canto do planeta e a que custo tanta violência é negligenciada. Ou ainda quais as consequências não-diretas do conflito e como estamos profundamente ligados a tudo isso. O mundo e sua infinitude de mazelas não cabem em uma pokebola.

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