A Cidade Alerta, perdida, sem pudor ou amor

Sobre a carne inerte aparvalham-se urubus, hienas e outra variedade de tipos obscuros ávidos pelo momento do ataque. É o clique que gera mais cliques, a exibição do fim em expressões de dor, o velório registrado, postado, comentado numa apropriação invasiva e deturpada do luto. São óculos escuros que afastam, que disfarçam, que criam uma barreira de proteção, e é uma fila que se desloca numa forma inapropriada de dizer adeus.

“Gritos de ‘gostoso’ para Faro e selfies chocam no adeus a Rezende”. É o espetáculo da morte, o show da despedida, que atrai de lágrimas sinceras a gritos descompensados de “lindo, tesão, bonito e gostosão” para o artista que se aproxima do caixão. Que forma estranha e bizarra de expressar a falta, de sentir a ausência! Corta pra mim, ali, pela última vez num sururu na casa de Noca. Personagens de uma miséria humana, sem condolências e num pêsames circense desprovido do lamento.

Abre a lente, meu filho, e lá vem mais uma selfie, um vídeo ao vivo, o povo fala, as câmeras que balançam, mas não param. É o desfecho de um jeito popularesco, sensacionalista, desatento ao certo e que acostumou-se a clamar por respeito, sem respeitar por contrapartida. A Cidade Alerta, perdida, sem pudor ou amor em mais um triste e degradante episódio da vida real.

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