O casal Marcelo e Felipe é fictício. A postura da Igreja, católica ou evangélica, não. Ela critica, recrimina, condena e promete a salvação em Cristo. “Que salvação?”, questionaria Marcelo. “Existe salvação para o amor?”.
Casos de padres pedófilos, de pastores promíscuos, de infidelidades entre casais de beatos se proliferam dentro das paredes sagradas dos templos, revelando algo de muito incoerente e hipócrita entre o discurso pregado e a atitude dos fiéis. O que eles entendem por amor? “Amai-vos uns aos outros”, o primeiro ensinamento de Deus. Homem com homem, mulher com mulher, com amor qual o problema? Quantos casais homossexuais ainda serão “queimados” em praça pública, vítimas de uma sociedade incompreensivelmente preconceituosa?
Cristãos utilizam a condenação dos sodomitas em gênesis, as passagens em Levíticos e a criação humana destinadas à reprodução como base de sua crença. Bem longe do fanatismo, historiadores e teólogos há algum tempo oferecem outras visões das escrituras, e são enfáticos ao afirmar que nem tudo deve ser levado ao pé da letra. E mesmo que fosse levado, é só folhear um pouco mais o livro para descobrir em Ezequiel 16:49-50 que o descontentamento divino com Sodoma, não era em relação às praticas homossexuais, e sim à soberba, orgulho e promiscuidade de ações, tais como abuso sexual e estupro.
Richard Dawkins dedicou um livro inteiro (“Deus, um delírio”) para provar que o mundo seria muito melhor sem a crença em Deus e as práticas religiosas. Como cristão, obviamente apresento minha sincera discordância. Mas faço coro com aqueles que vêem no fundamentalismo religioso, seja ele qual for, a raiz de muitos problemas endêmicos em nossa sociedade. Oxalá pudéssemos dizer dos religiosos contemporâneos o que os próprios adversários disseram de Jesus: “sabemos que és sincero e ensinas os caminhos de Deus com toda verdade, sem deixar-te influenciar por quem quer que seja, pois não fazes acepção de pessoas” (Mt 22,16). Congratulações pelo texto.