Eu e Rita ficamos observando ela, amarrotada, ajeitando a prótese de silicone sob o extravagante sutiã de renda. Jogou o cabelo de lado e puxou a imensa mala de rodinhas, comprometendo o insinuante rebolado enquanto caminhava. Okay, tinham os imensos sapatos salto 15, tipo agulha, e a calçada esburacada que não ajudavam muito.
– Uau, como ela aguenta? – exclamou Rita, incrédula.
– Não sei, mas ele aguenta. – respondi.
Os traços masculinos forçadamente escondidos em uma maquiagem pesada e o cabelo pra negro, ralo e crespo ora liso e loiro, artificialmente óbvio. O gogó protuberante, as pernas mal depiladas, o braço peludo descolorido. O que ela esperava de São Paulo? Por que seus olhos brilhavam tanto?
Fomos preconceituosos, assumo. Não pelo que ele era, mas por aquilo que ela poderia fazer. A imaginamos parada em uma esquina qualquer se vendendo por alguns trocados. Mas que valor ela teria? Fizemos um cálculo rápido, simples. Materialistas!
– Certeza, amigo! Ela passará fome…
– Talvez.
– Ou ela vai viver, bem, você sabe… Sem nem cinco minutinhos para café da manhã, almoço ou jantar.
– Que maldade!
– Sim, a ela e aos outros. Que maldade de vida!
Talvez ela tenha percebido nossos olhares. Fomos indiscretos, invasivos, maldosos. Ela não deu a mínima e, antes que entrasse no táxi, amassou o chiclete velho com a ponta dos dedos e jogou bem nos nossos pés. Sem carolice, mas uma imundice.
UAU, que figura!
Amigo realmente louco isso né…imaginei cada passo daquela longa e grande mulher em SP: uma mala gigante que parecia ter todos os seus pertences e disposta a tudo para um lugar ao sol nesta louca cidade…e a bunda gigante com aquela marca expressiva de bikini em que as mulheres olhavam subitamente e assustadoramente (alguns somente) e outros olhavam com graça, desejo, raiva e até constrangimento. Neste momento, confesso: não entendi o olhar masculino.