De frente para o espelho não sou mais um menino que enxerga histórias com inocência e utopia. Nem eu mesmo me vejo com perfeição. Seria necessário corrigir com lentes de 0,5 grau de miopia do lado direito ou com 2,75 para astigmatismo do lado esquerdo, para talvez ajustar o reflexo de tudo que eu sou, aparentemente.
Imagina então tudo aquilo que eu poderia – ou deveria – ser… Não caberia lá, aqui, nem mesmo em mim. É responsabilidade demais tentar sustentar uma imagem multifacetada, com sérios riscos de ser desonesto com minhas crenças, valores e princípios, e altas probabilidades de frustrar todas as expectativas e preconceitos que existem.
As pessoas devem (e podem!) achar o que quiser de mim, dentro daquilo que eu faço – ou não – para que elas formulem seus julgamentos. Às vezes elas erram, outras acertam… Com 0,5 ou 2,75 ou muito mais graus de distorção, passo de mocinho a bandido sem nem ao menos piscar os olhos. “Não foi a intenção“, eu me defenderia. “Mas foi o que pareceu“, ouviria perplexo em perceber que nem tudo havia saído conforme o meu script.
Olho em um prisma, um cristal ou em um kaleidoscópio de mim mesmo e percebo que talvez eu seja tudo e nada daquilo ao mesmo tempo. Não mais um menino inocente ou utópico. Fico feliz, triste, satisfeito e frustrado com meus fragmentos que, mesmo que eu não queira, são capazes de atingir amigos como a ponta de uma lança. Afiada, crítica, sarcástica, sagaz, esperta e inteligente,… E que, mesmo que eu não queira, engana, incomoda, machuca, fere e mata.
É mais ou menos como eu disse aí no meio e já repeti algumas vezes: tudo o que eu sou, tudo aquilo que pensam de mim e tudo o que eu poderia – ou deveria – ser se resumem em uma única filosofia de vida: ser feliz, sempre! Nada mais do que isso.