A vida da vizinha não era mais interessante do que a minha. Azar o dela em atravessar os dias entre o fogão cheio de panelas e a tábua cheia de roupas para passar. Preenchia sua vida com temperos e amaciantes, sem entender que – o que precisava mesmo – era apimentar a si própria e estender as suas ações em um varal infinito de possibilidades! Eu tinha certeza de que ela seria feliz e, claro, me faria também.
Poderia perder horas vigiando os seus movimentos, acompanhando o desenrolar de suas histórias, desejando vencer a timidez e ser um dos inúmeros amantes que entrariam por sua porta enquanto o marido estava no trabalho. Mas me contentaria apenas em ver… algo diferente, vocês sabem! Conseguiria visualizá-la dentro de alguma lingerie macia e provocante ou utilizando a mesa da cozinha para servir-se como prato principal. Eu a comeria inteira, saboreando cada canto daquele corpo curvilíneo.
De verdade eu estava cansado daquele avental! Conhecia todas as roupas e era capaz de adivinhar o menu do dia antes mesmo do cheiro invadir o meu quarto, um aviso de que em breve as suas crianças desceriam e se juntariam para almoçar. Ela poderia – e por mim deveria – ir muito além dos limites da cozinha e área de serviço que eu conseguia ver. Era no meu quarto que seria verdadeiramente feliz.