P.S. Eu te amo

 

Entardecer de uma quinta-feira quente, minutos antes de uma tempestade desabar em São Paulo. Ontem, dia 06 de dezembro de 2012.

Saí um pouco mais cedo do trabalho para fugir da chuva (e de todo o caos que vem com ela). Entrei em um vagão do metrô Faria Lima, sentido República, nada de muito novo nessa quase via crucis que percorro todos os dias. Cheio, por sorte não lotado, suportável não fosse por uma mulher nova, bem vestida, que esbravejava ao celular. Não demorou muito para que todos identificassem quem estava do outro lado da linha, a mãe. Mais gritos, palavras fortes, de burra a estúpida. Assim mesmo: “Mãe você é…”; “Já te disse, você não passa de uma…”.

Não vou repetir os insultos. Dois dos adjetivos estão ali em cima e já dá para vocês terem uma ideia do que estou contando. Não tinha como não ouvir, não tinha como não participar da conversa. As pessoas ao meu redor também estavam obviamente estarrecidas com tudo aquilo:  “Meu [paulistanês gritando] olha como ela trata a própria mãe”; “Oxe [nordestino, claro] que filha, meu Deus…”.

Isso aconteceu, não estou mentindo. Olhares indignados, raiva, vontade de cutucar e dar um belo sermão. Tenho certeza que as pessoas ao meu lado compartilhavam do mesmo sentimento.

A verdade é que passado o susto, achei a cena bem triste. Lembrei da minha mãe e senti uma saudade enorme. Eu fiquei triste por estar tão distante. Quem é filho e mora longe ou quem já não tem mais sabe do que estou falando. SAUDADE! Foi o que me fez pegar o meu telefone e ligar na mesma hora para Timóteo/MG. Tentei ser discreto, breve e falar o mais baixo possível, mesmo porque celular em transporte público só em emergências. Era uma emergência.

”Alô, mãe… Como você está? Eu estou bem… Estou ligando só pra te dizer que eu te amo… Tá… Então tá bom. Até mais tarde”.

Durou 10, 15 segundos… O suficiente para que eu me sentisse bem. Quem me conhece sabe que não forcei a barra, mesmo porque várias vezes ao dia repito isso, muitas delas apenas para saber como minha mãe está… E dizer que eu a amo, claro. Uma, duas, muitas vezes. Todas as vezes que forem necessárias. Eu não canso de repetir e tenho absoluta certeza que ela não se cansa de ouvir.

Fiz isso sem segundas intenções. Não foi para causar ou afrontar a menina. Problema e azar o dela ser assim. Mas a minha ação gerou uma reação (Alô, Newton!) nas pessoas que estavam próximas, que não pouparam sorrisos afetuosos.  Uma senhora chegou a me dar os “parabéns pelo exemplo”.

Exemplo. Um exemplo, talvez, se as pessoas que tenham ouvido aquela menina desrespeitar sua mãe também se lembrem que, minutos depois, eu declarei amor pela minha. Isso me deixa envaidecido e orgulhoso, porque mesmo que não tenha sido de propósito, aconteceu. Eu acredito de verdade que a gente só precisa de bons exemplos e um pouco de boa vontade para melhorar as coisas. Não se envergonhem de demonstrar afeto e amor por aí. Desse jeito a gente faz história!

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