O meu apartamento tinha uma parede suja que pedia uma mão de tinta. A minha mão tinha uma caneta, repleta de tinta, mas insuficiente para preencher sequer a folha em branco na minha frente, quanto mais todo aquele outro espaço.
A parede era infinita. Ela se estendia para lugares que, as vezes, eu jurava não conhecer. Mas a verdade é que cada um daqueles mesmos lugares já me pertenciam, mesmo sem pintar ou rabiscá-los em um pedaço de papel.
Não é por obrigação que vou pintá-las ou escrever o que quer que seja. Estou diante de paredes sujas e folhas vazias. Um momento de contemplação do nada, diante do tudo o que posso e preciso fazer. Olho então pra isso tudo, contemplo mais uma vez e não vejo nada.
Por prazer eu pintarei e clarearei o ambiente onde habitam os meus personagens. É uma questão de esperar o momento certo para rabiscar tudo de novo.