Para falar de um jeito diferente sobre o que nos separa
A primeira noção de distância que eu tive na vida foi ao esticar os meus braços e ver até onde eles podiam chegar. Eu era pequeno, bem pequeno, e lembro de ter forçado até sentir as minhas articulações doerem como se elas quase fossem arrebentar. Todo aquele lugar que eu não podia alcançar, onde minhas mãos não podiam chegar era DEFINITIVAMENTE longe. Difícil saber quando foi que descobri que não precisava de algo tão poético para tornar tangível aquilo que nos separa.
Teve aquele momento em que percebi que era possível tocar, ver e estar bem perto de alguém sem contudo experimentar do vínculo que torna a presença do outro algo especial. A indiferença é uma distância que dói, mata, dilacera a alma. Algumas vezes nos torna mais fortes, mas até descobrirmos onde essa força está… Não gosto nem de lembrar. Quem sabe um dia, de olhos fechados e perdido em pensamentos, eu tenha lembrado de lugares, pessoas, situações, incidentes, frustrações, mágoas… Histórias incômodas, trancadas lá no fundo, mas que não me tornaram melhor, muito pelo contrário.
A distância geográfica, que se mede; a ideológica, que compete; a de objetivos na vida, que compara. Algumas que não queremos encarar, mas que são fundamentais para o amadurecimento, para a formação do caráter. Outras que se estabelecem entre o que somos e gostaríamos de ser, a idealização; entre o que achamos que somos e o que os outros pensam de nós, a ilusão; entre querer e fazer, a frustração. A distância de quem se foi para sempre, sem que esse alguém precise ser outra pessoa. Não deveríamos nunca nos afastar de nós mesmos, de nossos sonhos.
Hoje eu estico meus braços e vejo que nada é tão distante que eu não possa, com um simples passo, trazer para mais perto. Continuo tentando construir pontes.