A cada hora, penso eu, alguém para quem a guerra é uma realidade vem ao mundo*. Não esta guerra que você resolveu criar, deles contra a nós, de direita contra esquerda, de coxinhas, petralhas, bolsomitos e esquerdopatas. Não uma batalha virtual ou verbal, de posts ou de palavras envenenadas disparadas sem um pingo de consideração por quem está do outro lado.
Não guerra de egos, de quem consegue ir mais baixo nos insultos, na grosseria e nas ofensas. Guerra de verdade, com bombas, tiroteio, cidades varridas pela crueldade, lavadas com sangue de inocentes; sob os escombros da terra que era de alguém e vira de ninguém, entre trincheiras e zoneamentos conquistados em batalhas estabelecidas muitas vezes a milhares de quilômetros, com interesses igualmente distantes dos que tinham os antigos moradores do local. Prédios e famílias que desmoronam, portas e familiares que são arrancados do porto-seguro que é o lado de dentro: a cozinha com cheiro de comida sendo preparada, o coração de quem se ama, a conversa sobre como foi o dia, e não como farão para sobreviver dali em diante.
Acordamos em um mundo atingido por conflitos realmente graves para ficarmos sentados digitando freneticamente nossas frustrações, vomitando o nosso ódio. Eu me recuso a aceitar que a maioria acachapante de nós veio ao mundo não como eterno aprendizes, mas como os donos da razão que se apresentam. Eu quero acreditar que existe em nós senso de justiça, respeito, humanidade e solidariedade que sejam capazes de nos fazer acordar para o que está se passando com a nossa geração e o rastro que deixaremos para as próximas. Eu espero que o próximo “efeito de manada” seja o de entender que podemos discordar sem guerrear, que não precisamos estabelecer um conflito para chegar a um consenso. Que somos melhores juntos e diferentes!
A cada hora, penso eu, alguém para quem a guerra não era uma realidade, passou a se ver dentro de um furacão. A cada hora, continuo, alguém para quem a guerra ainda não é uma realidade, quer de todas as maneiras entrar em uma. A cada hora, me desespero, alguém para quem a guerra já é uma realidade, não vê escapatória. Como é difícil aceitar isso.