Deslizo a timeline e vejo amigos empenhados em verdadeiras jornadas na defesa de suas ideias. Uma atitude verde (ou vegana, de esquerda, direita, comunista, progressista, machista, feminista, heteronormativa, gay, evangelista, ateísta,…) todas messiânicas, autoritárias e sem espaço para uma discordância sequer. Você é o que come, veste, fala, grita, posta, vomita em cima das suas centenas de amigos sem piedade. Eles que aguentem, concordem, curtam, comentem reforçando a sua inabalável crença, aparentemente a única válida neste mundo, vasto mundo. Ideologia, você achou uma para viver!
É óbvio que existe o certo e, por consequência, o errado, os outros, aqueles que não querem entender. Recebemos então um carimbo, a marca da besta, e uma vez taxados não podemos mudar. Sua besta, coxinha, esquerdopata, petralha, gayzista, feminazi, fascista, intolerante, idiota, burro, xiita. É como se tivéssemos nascido dentro de nossas crenças inquestionáveis, como se nós mesmos não tivéssemos trilhado o caminho do descobrimento, da luz. Sabichões, ignoramos a jornada – aquela que atravessamos e a que ainda está por vir -, crentes que chegamos à divindade do saber. Não aprendemos nada com a vida e tampouco estamos dispostos a ensinar. Pior ainda, estamos cegos e não reconhecemos nos outros um pouco de nós mesmos.
E quem sou eu para apontar o dedo na sua cara e discordar abertamente de suas certezas? Isso mesmo que pensou: ninguém. Esclareço que quando me lanço a escrever sobre o nosso comportamento, tenho total consciência de minhas limitações conceituais relacionadas às ciências sociais, filosofia ou psicologia, e da pouca profundidade teórica que alcanço. Falo do que observo, sobre o que sinto diante de atitudes humanas, tão demasiadamente humanas que não param de nos dar motivos para trocar uma ideia, mas as quais não aproveitamos devidamente, preferindo o isolamento após esbravejar a nossa posição. Não dá para falar com gente como você…
A Internet nos possibilitou muitas coisas boas e uma delas foi encontrarmos facilmente nossos grupos, mas ao contrário do que nos foi proposto, não ampliamos nossa comunidade. Estamos cada vez mais fechados em nossos próprios preconceitos, certos de que a nossa rede, aquela que nos ouve com devoção, é a mais especial, inteligente e correta. Especialistas em zelar pelo nosso próprio umbigo, perdemos a noção do corpo, esse que grita, reclama e dá sinais de fraqueza intelectual, emocional e física. Precisamos ouvir as nossas dores.
talvez o que pra você aparente ser autoritarismo, seja só preguiça ou falta de interesse em algum tema que seja pertinente, e estudado a fundo, por outra pessoa.
Ninguém nasce sabendo, mas ter empatia com as causas alheias faz bem.
As vezes falta aprofundamento.
Mas quem sou pra apontar o dedo e tirar a carta academicista pra alguém. Isso mesmo, ninguém.
Oi Ricardo, penso que podemos ter empatia a muitas causas sem que isso exija necessariamente um descrédito por quem pensa diferente ou que gere uma mudança de postura. É muito fácil e confortável não questionar as nossas crenças e valores ou ainda termos preguiça e falta de interesse por temas muitas vezes distantes. Não precisamos ser “ninguém” para quem quer que seja… E é por isso que valorizo bastante quem não concorda comigo e me oferece a oportunidade de aprender.