Sabe onde o calo aperta?! Aquela dorzinha insuportável, que ó… é melhor você tratar antes que piore? Tá doendo, não tá? Como isso incomoda, não é verdade? Como isso não nos deixa pensar em outra coisa senão na próxima fisgada – e em como eliminá-la de uma vez por todas.
A intolerância é meio como uma dessas dores de lado, tudo aquilo que não bate legal e que, lá dentro, vai criando um monstro difícil de controlar. A gente se incomoda com um post, revira os olhos para uma explicação, não dá o direito de poder estar errado – e, principalmente, do outro estar certo! – e pouco a pouco vai perdendo a civilidade de aceitar as diferenças, de não precisar concordar com tudo.
Como é duro ler tanta asneira, deparar com tamanha baboseira e ser tirado da zona de conforto por uma publicação que não caiu no filtro implacável de um feed sanitizado pelos robôs de grandes corporações. Essa bolha que nos separa do mundo real e cria uma colônia de bactérias ávidas por ganhar corpo, mas nunca consistência… Que desconhece o valor da cadeia alimentar, de todos os demais coletivos, para a sua própria sobrevivência!
O que mais me impressiona na questão política atual é a divisão de nossa sociedade. Grupelhos falando entre si sem qualquer troca com o mundo externo; verdades (unilaterais) sendo sedimentadas sem debate ou contra-argumentação. A raiva, o preconceito e a xenofobia fomentados sem resistência até que se tornem explosivos demais para caberem dentro da ideia de que é humanamente impossível saber de todas as coisas.
Como é duro ler tanta asneira, deparar com tamanha baboseira e ser tirado da zona de conforto por uma briga que, sem abertura para questionamentos ou mudança de pensamento, sem aptidão para um diálogo aberto e desarmado, acabará minando a chance que temos de construir uma sociedade mais justa e igualitária; democraticamente estabelecida e respeitosa.
É calo que aperta, incomoda, e que pouco a pouco cria monstros incapazes de ser controlados. É fisgada que destrói relacionamentos, que isola donos da razão, que separa irmãos. Diante de nossas bandeiras e crenças mais profundas, quisera adotássemos o discurso de que mesmo não concordando com uma única palavra do que vem sendo dito, estamos mais do que dispostos a defender até “a morte” – exagerando, claro! – o direito de todos dizerem o que pensam.