A forma como ele se entendia amando, como compreendia a relação íntima que podia estabelecer com aquele sentimento, exigia calma para perceber certas coisas além de atenção e muito cuidado com o acabamento das grandes telas às pequenas arestas que pintavam juntos. Não se tratava de um passatempo, mas sim de uma opção sobre como empregaria o seu tempo, daí tanto esmero e empenho. Merecia o melhor.
Sabia que as coisas se moldavam, que os novos tempos pediam um amar urgente, plural e conectado. Mas ele ainda recorria às cartas para expressar o que sentia. Gostava de pensar que do contorno da letra até a forma como empregava as palavras, tudo ali entregava um pouco do que sentia. Amava discordar do que havia escrito, rasurar e depois passar tudo a limpo… Recomeçar… Infinitas vezes fossem necessárias.
E não é que preferindo todo o esforço compreendido entre escrever, enviar e ter de esperar por uma resposta, fosse contra as mensagens trocadas por Whatsapp com aquelas figuras engraçadinhas ilustrando o bem-querer. Mas é que, embora um dos tantos recursos válidos para expressar o “eu te amo”, aquilo jamais teria a riqueza contida num rabisco mal traçado e que trazia consigo a originalidade que existe na arte de amar.
Ele pouco entendia deste novo homem afoito, inseguro e imediatista escondido atrás de aplicativos. A covardia do entregar-se, a pressa por estabelecer-se e a facilidade do desligar-se. Talvez, de tão seduzidos pelas ferramentas, tivessem deixado passar justamente o principal: aquilo que não se liga ou se desliga, o que não se controla. Quem sabe faltasse ser um pouco mais difícil para que eles entendessem que amar não é coisa fácil, boba, que se jogue fora ou troque a qualquer hora. Amor visualizado não é amor conquistado.