Preciso escrever alguma coisa, qualquer coisa, mas tá tudo meio turvo, meio nublado, meio sem vontade, meio não sei o quê. Depois de tanto já dito, discutido, debatido, após tantos planos, estratégias, conchavos, tramoias, “golpes” terem sido deferidos, deduzidos, atingidos, negados, questionados, confundidos, explicados, o que é capaz de nos fazer perder o chão, tontear, cambalear e beijar a lona?
O julgamento de Dilma Rousseff no Senado; a palavra da Presidente afastada; a inabilidade que possui na retórica; o discurso já batido, mas aparentemente sincero; os números que “não deixam mentir”; as réplicas e tréplicas de um circo político armado pleiteando o título de quem melhor desconstrói o outro; tiradas sarcásticas constrangedoras; a situação econômica justificando um golpe. E antes que julguem: não é golpe de estado ou militar, mas sim um golpe político sujo, por baixo dos panos (em acordos sabe-se lá a que custos) e na base do oba oba promovido pela imprensa.
Vamos em frente, mas sem perder muito tempo com as notícias nada animadoras sobre o (ainda?) Presidente interino Michel Temer e uma afiadíssima guilhotina apontada para programas importantíssimos do antigo governo. Ele nega, claro, mas há quem noticie que a ameaça feroz agora chega ao programa nacional de combate ao analfabetismo… Não tem o que dizer depois disso, me desculpem.
Do Rio de Janeiro e de São Paulo duas notícias que são uma desgraça só. Lá, um homem que mata a esposa a facada, dois filhos a marretadas, joga os corpos das crianças da sacada do 18º andar para depois também se atirar do alto do prédio em que viviam. Aqui, no Fórum de JUSTIÇA, outro homem que antes de sua audiência agarra o filho de quatro anos e pula do 17º andar. Assassinos de quarenta e poucos anos, crianças brutalmente assassinadas e justificativas compartilhadas na crise que atravessavam.
Dividindo ou roubando as atenções, vem a grande bomba do dia. Um tempo daqueles doado à separação de William Bonner e Fátima Bernardes, tudo dentro de uma civilidade e normalidade esperada (afinal divórcios acontecem). Fofocas e intrigas são mesmo a grande razão de ser das redes sociais. Dá-lhe oversharing, quem tem a sacada mais divertida, o meme mais inusitado. Ufa! O dia está perto do fim e vejo que pouco restou de minha vontade em partilhar de certos assuntos.
O desejo de felicidade vale para o caminho que cada um vir a trilhar, seja o Bonner, a Fátima, a Dilma ou o Temer, mas a verdade é que nada disso importa perto do choque de corpos contra um chão duro. Contra marretadas. Contra facadas. Contra um corpo indefeso agarrado ao pai. A proteção que é na verdade desespero, que é maldade, que é egoísmo, que é pura brutalidade, que é a morte. Dois homens de quarenta e poucos anos. Uma mulher de 48 anos. Crianças de cinco, sete e dez anos. Que golpe!