Ah, aplicativo, que tanto faz por mim! A qualidade do meu sono, a hora certa de acordar, o quanto devo comer no café da manhã e o controle rígido das calorias que ainda posso ingerir após essa primeira refeição. A performance no meu treino, as playlists exclusivas, os filmes e livros que posso vir a gostar, as viagens que tenho que fazer, quanto tenho que economizar (se posso ou não gastar, se devo aplicar, no que devo confiar!), as notícias que tenho que ler, a hora certa para sair de casa, o melhor caminho até o trabalho, as probabilidades de cair um pé d’água.
Todas as conexões, minhas centenas de amigos, os milhares de conhecidos, os milhões de desconhecidos e bilhões de estranhos em uma mesma rede, nas comunidades e em fóruns que carrego 365 dias dentro do bolso, vez ou outra escondidos na mochila, silenciados em reuniões (só nas mais importantes), que me distraem no trânsito e não param nem quando pego no sono.
A paquera mais fácil, objetiva e sem tempo para aquele fora que é dureza de engolir. O olho no olho separado por lentes, depois daquela conferida básica nas milhares de fotos melhoradas com filtros e efeitos para gostos variados. Não existe defeito que não possa ser mascarado. Check, match, like, coraçãozinho… Dedos que antes cruzavam em torcida, numa puta expectativa, agora deslizam para a próxima tela, para o outro perfil até tanta opção e seletividade banalizar a conquista. A fila que não para de andar e programar novos encontros. A falta de paciência no silêncio, desaprendendo a respeitar o tempo de quem está do outro lado… Calma, ele ou ela pode não ter visto a sua mensagem!
Aplicativos que de tão queridos foram abreviados até que parecessem um apelido. Nossos apps colecionados em telas e mais telas se tornaram indispensáveis… Como foi que vivemos sem eles? Não dá mais. Viver que ficou mais complexo ou somos nós que nos tornamos menos corajosos para lidar com os imprevistos da vida? É engraçado que toda a simplicidade conquistada com tanta tecnologia, venha acompanhada de instrução sobre funções e utilidades… É como se nos quisessem ensinar o porquê de não podermos mais sobreviver sem uma coisa que sequer sabíamos que existia. Paradoxal.