Um comportamento comum em nadadores quando vão atravessar distâncias em mar aberto é a crise do meio percurso. Entre braçadas contra a correnteza, muito esforço e respiração cadenciada, quando chegam na metade da distância traçada, é natural – e psicologicamente comprovado – serem tomados por um sentimento de realização, de dever cumprido.
O êxito de quem se esforçou e veja só, já está lá! Todo empenho, toda energia, parecem ter valido à pena: a corrida para entrar na água, as primeiras ondas furadas, as braçadas mais fortes até conseguir manter um bom ritmo de nado. Suor, coração disparado, respiração ofegante… Uau!
Mas aí, no instante seguinte, eles são tomados por uma aflição profunda. Falta ainda a outra metade, aquela que separa o sucesso do fracasso. Nadar, nadar e não morrer na praia. A excitação se torna turva e o medo uma constante. É preciso ter foco, continuar obstinado, vencer o estresse das fibras musculares, a respiração que falha, o coração que quase sai pela boca para enfim chegar do outro lado, ao destino, à superação, a pisar novamente em terra firme. Ufa!
É compreensível comemorarmos as pequenas vitórias que temos no dia a dia como gols em fim de campeonato. É justo nos vangloriarmos pelas tantas braçadas dadas e onde elas nos levaram. Só não podemos perder de vista que o mar ainda precisa ser atravessado… Com ondas, correntezas; com esforço e muita dor!
Só com muito respeito e consciência do que estamos fazendo, de qual é a travessia de cada um de nós nesse mundo, chegaremos a algum lugar.