Não tem muito o que dizer da situação que atravessa o Rio de Janeiro neste momento. Se fôssemos tirar uma grande fotografia do estado neste ano, chegaríamos perto do Inferno de Dante. Camada a camada, problemas se acumulam trazendo dor e sofrimento para uma população já castigada, que não teve que esperar pelo apocalipse para pagar por todos os seus pecados. Resta torcer para que 2016 seja o purgatório necessário para um renascimento com o brilho merecido.
É crise na saúde, com epidemias de zika, dengue, com hospitais sem médicos ou condições básicas de atendimento, com tratamentos de quimioterapia sendo interrompidos por falta de recursos. É crise na segurança – fora toda a insegurança que sem piedade engole há décadas asfalto e morro – com delegacias recorrendo a doações para ter papel que permitam imprimir BO, pedindo materiais de limpeza e materiais de construção para obras. Tudo isso descaradamente editado sem um pingo de vergonha num programa chamado “Juntos com a Polícia”. Haja papel para dar conta de tanta m…
É crise por incompetência na gestão das contas públicas (ô, novidade!), cujo orçamento só sustenta sete dos doze meses de 2017. Como os números não fecham, uma solução malandramente tramada: um possível pacote econômico que reduziria em até 25% os salários de servidores públicos. No Rio, gente… No Rio! Simbólico demais pensar que justo o nosso estado mais celebrado, o da capital maravilhosa, amargue situação tão decadente.
Como nada é por acaso, tanto descaso deu no que deu: a prisão de dois ex-governadores. Tanto Anthony Garotinho, acusado de compra de votos, quanto Sérgio Cabral, denunciado na Operação Lava Jato da Polícia Federal, são protagonistas de uma farra irresponsável que tinha mesmo que acabar na cadeia. Pelas vidas perdidas, pelas histórias encerradas, por tudo que poderia ter sido feito com decência e honestidade.
A malandragem tem seu preço, Rio de Janeiro, mas agora é preciso ir além de um ou outro nome “importante” na guilhotina. Personificar a tragédia, dar a autoria aos enredos apresentados, é minimizar o seu alcance e abrangência. Protagonistas são as cerejas de um bolo repleto de histórias menores, mas igualmente simbólicas para entender o novelo e todos os nós que imobilizaram a história recente do estado. E embora nenhuma malandragem celebrada cotidianamente tire o simbolismo das prisões que estamos acompanhando, não custa torcer e fazer a nossa parte para que isso seja o começo de uma profunda e sincera transformação estrutural.
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[Atualização 18/11/2016 às 09h17]
O que é o Garotinho fazendo pirraça, ou esperneando como preferirem, ao ser transferido à força de um hospital público para o Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio?