Dinheiro é fósforo ou o combustível? É o que permite que você faça muitas coisas – a fagulha que acende – ou a razão pela qual faz certas coisas – a queima do carvão? É o facilitador de um mundo de possibilidades ou a isca que te faz seguir em frente? O ponto de partida ou os fins – o “para quê – do seu esforço?
Estabelecer uma relação madura com o capital exige uma quebra de conceitos dentro de nós. A máquina gira e a tendência é de que passemos a trabalhar para ganhar cada vez mais dinheiro, deixando de lado os verdadeiros propósitos da existência que vão, claro, da busca pela felicidade a qualquer “preço” (como se fosse possível quantificar algo tão imensurável e subjetivo) à retardar o envelhecimento com o máximo conforto possível consumindo o que a indústria prover de mais moderno para isso. Viver custa caro, viver “bem” – usufruindo os indispensáveis luxos da modernidade – mais ainda!
Correr atrás do dinheiro para dar conta da fatura no fim do mês… E parcelar, e pegar empréstimos e continuar a consumir porque você está dentro do jogo e não pode evitar, e parcelar de novo, e pegar mais empréstimos até que não possa mais pagar, e não ter mais “nome” (essa coisa que é tão sua e que de repente é tomada) ou que ele esteja “sujo na praça” forçando você a voltar ao básico, o frugal, não mais que o necessário para viver. Sobreviver, recuperar o fôlego, negociar e entender que não sabe viver sem ele.
O valor de uma vida escravizada pelo dinheiro está no longo tempo em que se passa dentro do escritório quando deveria estar com família e amigos; na dor de cabeça com o cheque que vai cair daqui a algumas horas, e não por esvaziar corpo e mente enchendo os pulmões de ar para depois soltá-lo devagar; nas pernas inquietas com o celular que você quer muito e acaba de ser lançado, frente àquela caminhada pelo parque em um dia ensolarado; no coração que quase sai pela boca com a ligação do gerente do banco (diga que não estou, diga que não estou!), à taquicardia de receber uma ligação de quem tanto amamos e não vemos há tempo.
É uma questão que envolve o valor que damos a vida, o preço que colocamos no nosso prazer, por quanto e para quem estamos disposto a vender nosso dia a dia, em como vamos negociar o tempo… O quanto realmente custa ser e estar feliz.