Uma das grandes capacidades humanas é a reinvenção. Fôssemos apenas uma espécie criadora talvez estivéssemos ainda batendo cabeça com as primeiras conquistas, e não vivendo esta avalanche de novidades, muitas delas ainda sem um objetivo bem definido.
O mundo atual acostumou-se a a inverter as ordens, criando o “para quê” depois do produto pronto e embalado. Trata-se de um movimento diferente daquele em que nossos desejos e necessidades eram primeiramente estudados, entendidos para só então serem supridos.
Insistente, o homem não para de lapidar o diamante, que aos seus olhos nunca chegará à perfeição. Tem sempre uma quina, aquela ponta, para ser melhor polida… E debruçando sobre o que antes estava pronto, faz-se o novo, estabelecendo um outro padrão e subindo mais um degrau da sofisticação de nossas entregas. Com direito a “mutações” outrora inimagináveis que, olha só, dão certo!
Vale para tudo e, não fosse assim, não haveria mais o que cantar, novos quadros a pintar, histórias inéditas a contar ou aparelhos a nos domesticar. É o que gira o mundo como conhecemos… Esta incrível capacidade de sentar, olhar, questionar e dizer que pode melhorar algo ou ainda, inspirado por aquilo, partir para mundos inexplorados. É a capacidade de regenerar, de desconstruir e partir para uma nova edificação utilizando os mesmos pedaços de pedra antiga que antes não passavam disso, meras pedras.
Do macro ao micro
É por esse fascínio sobre a inteligência humana que todo ano dou especial atenção à vinheta de fim de ano da TV Globo. Deixo as críticas a qualidade da música (cafona? pretensiosa? com mensagens subliminares?) para os críticos e especialistas e me atenho a capacidade dos profissionais da emissora, há décadas, conseguirem extrair algo diferente, único e conectado a realidade. É de se reconhecer o quanto eles provam que muitas cabeças, a soma delas, conseguem tirar água da pedra e, de modo simples, cantar mais uma vez o que todos já sabemos: que hoje é um novo dia de um novo tempo que começou.