Pegou meu celular e tentou entrar na conta de e-mail com a certeza de que aquele era o mais completo dos diários, o registro de todos os meus últimos anos. Queria saber de detalhes, esmiuçar cada canto da minha vida para se sentir ainda mais no controle.
Acessou o Whatsapp, Facebook, Twitter, Google+, LinkedIn, Instagram e Snapchat crente de que uma espiadinha não deixaria rastros, que tamanha perspicácia poderia revelar alguma coisa escondida, uma mentira ou um segredo. A intimidade alheia (os nudes, bate-papos sórdidos) tornou-se uma poderosa arma de intimidação.
Tentou entrar no banco, no Yupee, no Guia Bolso, mas felizmente as senhas foram eficazes para bloquear o interesse em minha vida financeira. O dinheiro é meu, não seu! Não que eu tenha TANTO o que esconder, vou avisando, mas você passou dos limites e está devendo. Não pretendo te cobrar.
Roubou o celular achando que poderia me ter, e por mais que fizesse algum sentido, por parte da minha vida estar registrada ali, conseguiu apenas o meu ódio. E eu sou bom em dar a volta por cima: buscar meu celular, apagar dados, fim… O seu em minha vida. Vai um pouco de mim tentando entender o que dói mais: o roubo em si ou ter de substituir de forma abrupta, um “amigo” tão íntimo depois de muitas histórias compartilhadas.
Quem procura sempre acha mesmo que tenha que inventar o achado.