Não pense em crise, trabalhe. Ande, proletário, obedeça. Entregue-se… doe-se por inteiro. Não abra margem para pensar bobeira, não questione, aceite… Conforme-se! Não reclama, vai… não está vendo o que está acontecendo? A culpa é sua que está aí de papo-furado gastando um tempo precioso com preocupações bobas enquanto deveria produzir, entregar, girar a máquina. O país precisa do seu suor e energia, da sua ignorância e alienação.
Vamos então ser bem diretos? A situação pede. A crise (“crise, que crise?“) exige que cortemos na carne, que soframos, que viremos mártires do Brasil, esse país justo e igualitário. Você é brasileiro e não desiste nunca, certo?
Então vamos lá… Não pense, faça… Agora! Considere isso uma ORDEM. Pelo PROGRESSO. Não dê ouvidos para aquela história de desvio de dinheiro, de bancos com lucros recordes, de subsídio a empresários, de cortes em programas básicos. Isso é para causar discórdia e intriga. É para nos desunir mais ainda.
Por que está pensando nisso? Não está prestando atenção no que estou dizendo? O que está fazendo lendo este texto no tempo em que deveria estar tra-ba-lhan-do?
Ocupe essa mente com o que interessa. Siga o discurso positivista. A ignorância é uma benção, você vai ver. As vezes o melhor mesmo é parar de ler, deixar de se informar, não discutir a situação com desconhecidos e tapar os ouvidos para não deixar que o veneno alheio te contamine. Mente vazia, oficina do diabo, e a mente do diabo está na oficina vazia, por isso complete o seu turno, a labuta, aquela razão especial que te faz levantar todas as manhãs e cumprir o seu papel social. Pelo dinheiro que receberá, por uma economia cada vez mais viva, para poder comprar e consumir.
Não pense em crise, trabalhe! A verdadeira alienação é ficar sem dinheiro, sem comida, sem celular, sem internet, sem Facebook, Twitter e blog. Trabalhe, vamos lá.