O medo sobe paredes cada vez mais altas, coloca cercas elétricas, arames farpados, cacos de vidros, sensores de movimento, grades de metal, vidros blindados, câmeras de vigilância, trincas, chaves especiais, seguranças particulares, cães de guarda. O medo tranca a porta e liga luzes.
O medo isola, cria distâncias e consolida a separação. O sentimento de solidão, o estar sozinho e desprotegido, em um mundo árduo, sem alma, violento, onde é cada um por si e automaticamente contra todos. Somos bons em construir as nossas próprias prisões particulares.
O medo constrói muros, aumenta barreiras e nos torna ainda mais fracos e dependentes… Não uns dos outros, mas de artimanhas que ofereçam a impressão de estarmos a salvo de algo que pode vir a acontecer. E que também podem não acontecer. O seguro morreu de velho e é melhor prevenir do que remediar.
É tudo uma ilusão. Como em uma bola de neve montanha abaixo, quanto mais nos afligimos e tentamos fugir das coisas ruins (como se fosse uma questão de tempo até que elas nos atingissem) maior a avalanche de temor que nos engole. Atitudes egoístas, inúmeras delas, são noticiadas sem que seja possível esconder-se da sombra do terror. Ficamos cada vez mais assustados com os limites da maldade humana e queremos correr, fugir… Até que elas se tornem corriqueiras e banais. Não cansamos de nos superar, de surpreendermos a nós mesmos com o quanto estamos insensíveis às dores do mundo.
Medos criam muros. Agora é preciso vencer o círculo vicioso e criar portas; e abri-las; e sair para o mundo; e viver; e ser feliz; sem reservas; e mais um monte de coisas que podem dar certo. Sem medo.