Juro que pensei estar vivendo neste ano uma versão reeditada do slogan de JK, com pelo menos uns dez anos em apenas um. Tenho a impressão de que nunca corremos tanto, falamos tanto, brigamos tanto, estressamos tanto, desentendemos tanto, sofremos tanto.
Os possíveis respiros que teríamos (como as Olímpiadas) foram precedidos de um pessimismo sem igual. Fomos da ameaça terrorista a um surto de Zyka. O impeachment da Dilma, as eleições para prefeito e tudo mais se tornaram verdadeiras jornadas de penitência que, de tão intensamente vividas, exploradas e repercutidas, parecem hoje coisas de um passado distante, ainda que não cicatrizadas.
Revelamos que, como nação, não tem essa de não desistir nunca. Jogamos a toalha e mostramos nossos copos vazios (sem uma mísera gota de paciência, esperança ou perspectiva). Não nos permitimos deslocar do agora para entender as consequências de nossos atos e, como era de se esperar, metemos os pés pelas mãos. Incontáveis vezes!
Nós sabemos a que custo passamos por tudo isso. Como nos doamos, como nos perdemos e nos achamos, como desaprendemos a nos reconhecer como um espelho refletindo uns aos outros.
A intensidade e o volume de informações nos engoliram sem que tenhamos ficado, como era de se supor, mais completos, sábios ou maduros. Nunca parecemos tão estúpidos, bobos, preconceituosos, fechados, temperamentais, explosivos, imediatistas, simplistas, grosseiros e violentos.
A impressão é de que brigamos mais do que deveríamos. Que poderíamos ter ficado mais quietos preservando a nós mesmos e aos outros de tanto ressentimento. Talvez pudéssemos ter amado mais, discutido menos, ouvido verdadeiramente, não apenas para esperar a deixa para dar o corte, o basta, o fora. Poderíamos, mesmo diante de fatores alheios à nossa vontade, ter encontrado um lugar de coexistência, e não essa bolha de separação frágil.
Mas mesmo diante de dias difíceis vejo que consegui alguns feitos. Fechei alguns pontos abertos como a repaginada deste blog – o douglasfreitas.com -, a publicação de frases antigas no Instagram, e mantive o compromisso de escrever quase todos os dias sobre assuntos não-lineares. Lancei o canal no Youtube e resolvi investir dinheiro nos meus dois livros – A Garota que Eu Perdi e 3 Tempos – com diagramações, revisões e traduções de profissionais do mercado cuja competência eu respeito. Testei formas de divulgar o que escrevia nas redes sociais e vi, vez ou outra, a audiência melhorar. Foi um ano de profissionalização de um hobby e que me deixou profundamente realizado. Obrigado a cada um de vocês que me acompanharam e fizeram parte desse meu ressurgimento online.
Gosto de pensar em ciclos, em como as coisas precisam ser finalizadas – doa o que doer – para que o novo se estabeleça. 2016 provavelmente será lembrado como um ano conturbado… Mas tenho me esforçado para acreditar que muito do que vivemos foi necessário para encerrar velhas histórias, virar páginas e começar a escrever um futuro melhor. 2016 ensinou duras lições, é verdade, capazes de nos profissionalizar ainda mais na escola da vida, no entendimento do nosso “eu” no mundo e a parte que nos cabe numa sociedade tão conturbada e doentia.
Depois de apanhar tanto, que nós possamos olhar para frente sabendo encontrar formas para evitar buracos conhecidos… Porque será das pequenas revoluções que somos todos capazes de tocar, que nascerá um mundo mais fácil de ser compartilhado.
Eu desejo, do fundo do meu coração, que vocês consigam chegar lá. Que 2017 seja o começo daquelas mudanças que partem de dentro de nós para ganhar vida nos outros.