Você não gostava de mim e eu também nunca fui com a sua cara. O que eu chamava de empatia para você era pura falta de simpatia. Eu via uma pessoa fantasiada, brincando de tentar ser alguma coisa sem ser porra nenhuma (desculpa, mas é verdade). É tão irritante que não consigo disfarçar.
Você nunca me entendeu enquanto eu tinha certeza absoluta de ter sacado qual é a sua já nas primeiras impressões. Nem lá nem cá, um ser híbrido sem um pingo de autenticidade e originalidade. O que eu via – essa insuportável tendência a se vitimizar – era o contraponto da minha vontade de não me encaixar em estereótipos ou usar deles para a minha promoção. Você não entendia a minha liberdade e eu jamais compreendi a sua vontade de estar preso a preconceitos.
Você precisava lembrar a todo instante de onde vinha, o que havia conquistado e aonde tinha chegado. E eu só querendo dizer parabéns, mas que isso era um problema seu, que ninguém tinha nada a ver com isso. Se isso daqui fosse uma série, um filme ou uma novela, eu seria o mocinho e você o vilão. Mas você tentava pintar o quadro de forma oposta. O que é o ponto de vista, não é mesmo?
Você queria ser um exemplo, um molde supostamente perfeito. Eu enxergava as limitações e, cruel, deixava que você soubesse que as conhecia nos mínimos detalhes. Você ameaçava chorar, dizia que tudo tinha sido difícil, tadinho… E eu te achava cada vez mais insuportável. Muda o disco, que saco…
Você provavelmente tinha uma visão parecida com a minha – a de não me suportar. Mas um dia entendemos que embora jamais nos tornássemos amigos, poderíamos viver sem que nos víssemos como inimigos. O mundo era grande o bastante e a vida curta demais para que continuássemos a perder tempo com dois nadas. E odiar alguém – ainda mais gratuitamente – toma uma energia danada, o que você jamais mereceu diga-se de passagem!
Tudo ficou mais simples e sustentável… Você na sua e eu na minha, cada um com sua forma de ver a vida. Embora, vez ou outra, eu ainda precise recorrer aos meus fones de ouvido (sua voz tinha mesmo que ser tão insuportável?); por mais que eu ainda afunde na cadeira para limitar o meu campo de visão; ainda que em caso de restar só nós dois neste mundo, eu muito certamente preferiria estar mortinho da silva.