Quaresmas

Somos muito mais do que o povo festeiro em fevereiro ou violento divulgado em forma de espetáculo por nossos noticiários. Da roubalheira sem fim e do jeitinho mau caráter que rola por baixo dos panos. O Brasil não é Nordeste, mas tá longe de ser só o Sul ou o Sudeste; vai além de praia e sol ou de uma grande floresta (em chamas) povoada por animais exóticos. Delimitar essa terra – até onde vamos como nação – é tentar se enxergar ao mesmo tempo em que se repudia nas semelhanças, num esquizofrênico samba de aceitação e negação. Chora, cavaco…

De uma hora para outra viramos a casaca e podemos ser todos Charlie, Orlando, Maju, Olímpicos ou qualquer outra coisa que demonstre camaradagem a uma causa. Dançamos conforme a música, mas emperramos quando deveríamos avançar num passo mais progressista e coerente com as campanhas virais que tão rápido aderimos. Fazemos barulho, unimos ao coro, nos mobilizamos e esquecemos com igual facilidade do que se tornou “trending topic”. É tudo tão abundante – problemas e encantos – que apaixonamos como adolescentes, mas não morremos de amores por quase nada. Sentimento que nos consome, mas que desaparece assim que topamos com um tema de maior sex appeal.  

O que é aplaudido mundo à fora – o colorido dessa mistura doida que nos molda – é desprezado Brasil à dentro. É um tal de vai pra Cuba, pra Miami, adeus Brasil, partiu Europa, que faz-nos acreditar dentro de um êxodo rumo à terra prometida. Justo aqui,  na mesma terra de palmeiras onde canta o sabiá; das aves que aqui gorjeiam, e não gorjeiam como lá; do céu que tem mais estrelas, das várzeas com mais flores, dos bosques com mais vida, e a vida com mais amores, onde vivem outras 200 milhões de pessoas precisando comprar urgentemente essa ideia. Diferenças à parte, dá sim para ser feliz em meio a todo o caos. Basta que queiramos verdadeiramente ser parte dele, encontrando o prazer que existe na construção de uma sociedade mais justa, eficiente, honesta e  harmoniosa.

 

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Veja outros trabalhos de “Joy” – que eu conheci navegando na internet e tirei um pouco do contexto no post acima –  de Anna Anjos e Manu Saeger clicando aqui.

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