Que vontade de vivermos um “dia histórico”, não? Vale de tudo para que possamos nos sentir importantes o suficiente para escrever um capítulo a ser contado, admirado ou mesmo odiado nos próximos anos. Só que grandes marcos não são ensaiados, forjados ou forçados. Eles precisam da espontaneidade das emoções, de serem frutos de uma conjuntura de fatores que nem sempre podem ser combinados.
O dia de hoje marca o golpe ou o exercício da democracia? Você escolhe, o tempo dirá. Do meu lado preciso entender o que significa “golpe”. Comparar com 64 já se mostrou uma furada, mesmo porque as próprias forças armadas já disseram não querer o poder nem por um caralho. Não nesses termos, claro, mas o suficiente para jogar um balde de água fria em neo-comunistas, notoriamente loucos para viver uma revolução para chamar de sua.
E ah… A Dilma não é o Collor, 2016 não é 1992, sinto muito! Vocês que estão aí fantasiados de verde-amarelos dificilmente terão a fama dos “caras-pintadas” (sorry, Kim Katiguiri, MBL, Aécio), simplesmente pelo fato de que mal repercutem a voz dos que os apoiam, quanto mais trazer sobre os ombros o conceito e a força de uma unidade nacional.
Por ora, penso que o dia de hoje é SIMBÓLICO, e só. É a cereja em cima do bolo confuso que preparamos enquanto país. Isso vale para qualquer um dos lados defendidos, seja pró ou contra impeachment. Como comentei ontem em um post no Facebook, “sim, tem ares de ‘golpe’ (GOLPE BAIXO) – ainda mais tendo em vista que muitos dos que estão votando não têm ficha limpa. Mas é preciso dizer também que quem votou na Dilma, votou na coligação PT – PMDB e, portanto, também no vice Michel Temer”.
Complemento: golpe baixíssimo, ainda mais se considerarmos que todos os que estão neste instante votando, os “nobres” deputados, foram escolhidos há pouco mais de um ano por cada um de vocês que me leem neste momento. É um dia que contorna com pincel fluorescente o quanto não sabemos votar e escolher quem nos representa, e que mais uma vez exemplifica o quanto adoramos tumultuar e tentar virar o jogo aparentemente perdido.
A Dilma, o Temer, o Cunha, o Renan e todos os outros somos eu e você, povo brasileiro. Como é difícil nos olharmos no espelho, não é? Como é difícil pensar que a imagem refletida está longe de ser aquela tão festejada e defendida mundo afora. Não, nós não somos tão legais quanto pensamos.