É um projeto de poder e dominação sim, não se enganem. A eleição do Bispo Marcelo Crivella à prefeitura do Rio de Janeiro é mais um capítulo do “ide” cristão, em especial do evangélico neopentecostal e do conglomerado da Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.
Aqui abre-se um parênteses. Não estou criticando os crentes da igreja, mas sim da entidade em si. O “negócio” Universal não é apenas fé, mas sim a conquista de poder, que passa obrigatoriamente pelo domínio do espaço político (daí eles terem seu próprio partido, o PRB). Não é à toa todos os horários comprados em emissoras de televisão brasileiras, não é por menos que eles têm um canal próprio (oscilando entre o segundo e o terceiro mais vistos do país), emissoras de rádio, jornais, agência de turismo, imobiliárias, empresa de seguro, de saúde, de táxi aéreo.
Púlpitos são verdadeiros palanques e a massa cristã se organiza para eleger os defensores de seus ideais. É o “ide” misturado a um medo profundo – que remonta dos tempos da ditadura – de que sejam enfraquecidos e caçados pelos “comunistas”. Crivella venceu no medo, e não só das políticas progressistas de Freixo (aborto, legalização de drogas, união homoafetiva).
É claro que nos próximos quatro anos, Crivella terá a oportunidade de confirmar as suspeitas dos pessimistas ou quem sabe até surpreender a todos nós que observamos a igreja chegar ao poder executivo de forma tão ambiciosa. O que pretendem? Aonde querem chegar? A que preço para todos os outros tantos não-crentes? Seria um plano nacional de domínio e evangelização? A porta de entrada do extremismo e fundamentalismo?
E falando especificamente de cariocas e do porquê de Crivella ter ido tão bem nos bairros mais carentes, não é de hoje que as igrejas neopentecostais encontram exatamente ali ambiente propício para estabelecer sua terra fértil/sagrada. É o crescimento pela promessa de prosperidade (nem que seja no pós-vida); o “entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais Ele fará” (Salmos, 37, 5).
A cidade do samba, da Farme, do funk, charme e baile de favela convertida às promessas de um bispo da Universal, que como disse agora há pouco, é dona da Record, rival da Globo – outro império costumeiramente acusado de atacar evangélicos em sua programação. Aí mais uma cereja do bolo na história que assistiremos: será Crivella para a cidade maravilhosa uma reedição do que foi Brizola no governo fluminense peitando a Vênus platinada? Ainda sobre isso, como foi curioso ver a Globo, a tal mídia golpista (DE DIREITA), flertando com Freixo (!!!) para frear a eleição do novo prefeito evangélico. Deu ruim, com Crivella chegando a não comparecer a uma entrevista na emissora . E daqui para frente? Dará ruim? A observar…
Embora eu tenha uma tendência a pensar que venceu por lá o que temos de mais rançoso na política, o conservadorismo, só mesmo o tempo para nos dizer como o Bispo sairá nas novas atribuições. Continuarei fiel ao meu credo de que é pra frente que se anda. Retrocesso não dá.
Finalizo este texto com um vídeo de 2011 com uma mensagem profética do grupo Diante do Trono feita durante a gravação de um DVD na Cidade Maravilhosa. É de arrepiar até o último fio de cabelo tamanha a voracidade com que evangélicos partem para a conquista do Brasil (e o custo que isso pode ter para pessoas “do mundo” como eu e você).
Tempo, tempo, tempo, tempo….