Separados por um Robô

Estamos a um robô de distância. É ele quem diz, dentre tudo o que somos, pensamos e publicamos, aquilo que é ou não relevante e que merece ser visto. Ele aproxima e distancia, nos coloca no silêncio, é senhor do isolamento, e também amplifica nossas vozes com um alcance que sequer podemos imaginar.

É a última fronteira antes da submissão. A tecnologia passou do domínio ao controle de nossas vidas. A censura feita pela máquina nem sempre é justa e pode maquiar a realidade dando-nos a impressão de ora estarmos sozinhos em nossas excentricidades ora vivermos em uma comunidade rodeados de iguais. É a hora em que somos pegos de surpresa, por exemplo, com o resultado de uma eleição e percebemos que o mundo é muito mais vasto do que o cerco de nosso feed de notícias. Onde estavam todos os simpatizantes de Trump, do Temer, do MBL, Bolsonaro, que não na minha timeline?

No controle da informação, máquinas super poderosas, mas ainda incapazes de filtrar boatos, de bloquear mentiras; de não divulgá-las sem a devida responsabilidade ou controle; de não proteger com o anonimado do oversharing os seus idealizadores. Entre milhares de compartilhamentos, milhões de curtidas, mentiras transformadas em verdade*. Pessoas comuns em co-autoria de crimes perfeitos. Culpados sem rosto, sem nome, sem a merecida punição!

Não questionamos a máquina e não damos o benefício da dúvida, a chance de defesa, o direito de resposta. Não checamos as fontes. Acreditamos, porque ali, aí, aqui está uma “verdade” que nos interessa. É uma alienação induzida e consentida, com consequências ainda difíceis de serem compreendidas  e mensuradas.

Toda essa discussão é parte  da polêmica que atravessa o Facebook, acusado de ter sido decisivo para a vitória de Trump nas eleições presidenciais norte-americanas da última terça-feira. A alegação, desacreditada por Mark Zuckerberg, é de que os filtros do feed de notícias da rede social não foram capazes de blindar e distribuir para milhões de usuários notícias falsas sobre Hillary Clinton. Nenhuma novidade para nós brasileiros, vocês bem sabem.

Espero, de verdade, que o robô que existe neste momento entre nós, permita que este texto chegue até você. E que a gente possa conversar mais sobre ele.


* Já imaginaram se o Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, tivesse a sua disposição essas ferramentas de comunicação? O que nos leva a pensar que tal pensamento não fez escola e que estamos hoje, agora, em um importante momento da história humana? Precisaremos do distanciamento do tempo para entender o que está se passando à nossa frente no feed que lemos ou passaremos a exigir uma melhor curadoria do conteúdo que nos é oferecido?

 

 

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