… Ou descemos mais um nível? Você escolhe como quer encarar a notícia, mas o fato é que o caso Marina Joyce (ou “Maria” Joyce em livre/errônea adaptação de tuíteros brasileiros) representa um novo marco na tratativa de exposição na web, criação de personagens/busca pela fama a qualquer custo e como estamos vivendo uma era de histeria coletiva.
Para quem ainda não está por dentro do assunto do momento, Marina Joyce – uma entre tantas garotas que divulgam vídeos próprios com dicas de moda e estilo de vida – despontou entre os assuntos mais comentados do Twitter após seguidores notarem uma suposta mudança de comportamento nos últimos vídeos que vinha fazendo, com olhares assustados, e o que seriam hematomas pelo corpo, além do barulho de correntes (como se estivesse acorrentada) entre tantos outros aparentes indícios de que estaria sendo mantida em cárcere privado. Veja mais detalhes aqui.
A suspeita levantada por usuários de redes sociais era “confirmada” pela própria Marina, que seguia recomendações de inserir emojis como sinal de que precisava de ajuda, sussurrava “help me”, postava e deletava tweets estranhos, curtia todos os comentários que pediam a sua salvação. Não deu outra, obviamente: a internet respondeu à altura vindo abaixo e tornando a hashtag savemarinajoyce rapidamente um viral daqueles capazes de despertar as mais diferentes versões, interpretações, teorias. E pontua-se também: milhares de novos seguidores para Marina, transformada de uma hora para a outra em um ícone global. Sobrou para o namorado, para o ISIS (que teria sequestrado a garota planejando um atentado na manhã do dia 06 de agosto) e para a própria Marina… Drogada? Esquizofrênica? Louca? A nova Cisne Negro?
Fiquei pensando na tal Marina, Maria, a que precisa ser salva, presa em teorias, acorrentada na loucura (a dela própria e de seus seguidores) e como nós, que sequer conhecíamos a moça até ontem, nos tornamos seus protetores, ora como urubus ávidos por acompanhar uma tragédia ora como detetives e grandes heróis de um seriado da vida real.
Como porta-vozes de uma histeria coletiva, preferimos o boato, o disse-me-disse, a acreditar no que dizia amigos próximos da Youtuber, a mãe dela, a polícia londrina e a própria garota. Que prazer é esse que nos faz continuar imersos na loucura de uma fofoca, de um factoide? Por que preferimos acreditar em nossas verdades a aceitar o que está estabelecido e justificado por evidências?
Marina Joyce nos ensinou coisas importantes sobre a era em que vivemos. Somos vítimas do sensacionalismo, nos alimentamos da desgraça alheia e adoramos ser parte, ainda que como coadjuvantes, de uma corrente ancorada na desinformação. Mais: há uma parcela de nós disposta a absolutamente TUDO para se manter em evidência, para aparecer e ganhar admiradores. E o pior: parece cada vez mais uma unanimidade o prazer que sentimos em sermos enganados.