“Não vai ter golpe” e a Dilma termina o ano governando bem, colocando a economia nos trilhos: a da casa dela, veja bem. Tchau, querida. O número de desempregados (12 milhões) aumenta e o PIB não reage. Michel Temer, que era vice, está tranquilo no posto que ocupa ainda que passando por um escândalo de tráfico de influência. Não liga… Com Marcela, que é bela, recatada e do lar ao seu lado… Elogio do Noblat, o furor despertado nas feministas. Olha elaaaas… Mamilos livres pelo fim da cultura do estupro frente a notícias de abusos sexuais coletivos cometidos e divulgados em redes sociais. Mais de 30 no mais simbólico. Biel, sabe quem? Não. Somos todos hashtag, muitas delas, no calor do momento.
É golpe, estamos mudando o país, é mimimi. Panelaço! Coxinhas ou esquerdopatas, nunca estivemos tão definidos; tão separados! E usamos a mesma palavra para nos taxar: ca-na-lhas. Soa bem, parece combinar. A Odebrecht fecha acordo para delação e já temos boa parte das capas de revista de um futuro próximo. Por ora, algumas assinaturas de executivos da empresa em um pedaço de papel geram manobras, maracutaia, tramoias na calada da noite. Povo na rua. Ninguém escapa. Temer, Aécio, Cunha, Lula… Se pudéssemos dar nome ao buraco que nos engole, seria: financiamento empresarial.
Lava jato, juiz celebridade, japonês da Federal que escolta presos usando ele mesmo uma tornozeleira eletrônica. Das nossas “coerências”. Tá tudo embolado e não dá para saber se alguém se salva da fogueira de julgamentos. Até o STF dá para trás e permite que Renan Calheiros continue na presidência do Senado. Qual era o crime, a justificativa, para o impeachment de Dilma? Das nossas “incoerências”.
Prisão de Eduardo Cunha, Anthony Garotinho e Sergio Cabral. O Lula foi preso? Trending topics com direito a ampla cobertura midiática. Golpistas… Salvadores… A República de Curitiba é justa ou seletiva? O afago, as gargalhadas, com outros acusados é deslize ou comprovação de uma parcialidade no julgamento? A justiça é injusta? Desde quando não foi? Não sou capaz de opinar.
“Os poderes atuam de forma harmônica”, disse a juíza Carmen Lúcia caindo do cavalo “Opinião Pública”. E erram também da mesma forma? Aborto, anistia ao caixa dois e punição a juízes por abuso de autoridade entram em pauta. Mudam a aposentadoria e acham que ficaria por isso mesmo. Militares podem acumular benefícios. Busca por previdência privada. Acordão? Três letras, PAC, não, PEC. Gritaria nas redes sociais!
Não vai ter Olimpíadas, Paralimpíadas. As instalações não vão ficar prontas, que vexame. Está tudo inacabado, péssimas condições, atletas não virão com medo da Zyka e outros, os russos do atletismo, banidos por um dos maiores escândalos de doping que já vieram à tona. Lagoa poluída, o que acontecerá com quem cair naquelas águas? Piscina verde de um dia para o outro. Que cerimônia linda, não fez feio, mas por pouco. O fogo olímpico sustentado por cinética e a sustentabilidade no discurso.
E com tanta câmera apontada em nossa direção esperando por deslizes, campões das piscinas que são vândalos, que são mentirosos e que pagam com a perda de patrocínio por terem inventado um assalto. Que mico! Teve também aqueles que reclamaram tanto, mas foram pegos falsificando entradas em uma competição. Que educação seletiva, não? Teve ciclista acidentado em prova, morte. E atacaram nosso cafezinho e os biscoitos Globo. Que gente ignorante! Descobrimos que gringos não são tão legais para serem endeusados.
A consagração de Phelps, de Bolt, de Biles. Olimpíadas de sobrenomes de peso…De Janeiro, do Brasil. Recorde de medalhas da nossa delegação, mas abaixo do esperado. Copo cheio ou vazio? Um salto com provocação da torcida, um atleta ofendido e outro que pula para a história. Braços fortes remando contra todas as dificuldades rumo ao pódio, três pódios. Recorde de novo. Uma brava lutadora da Cidade de Deus que deu um wazari no preconceito e virou nome de escola desabafa: “O macaco que tinha que estar na jaula hoje é campeão”. Superação que vem com lágrima, muitas delas. Exemplos por trás de cada uma das 19 medalhas conquistas por nossos atletas. Nunca fomos tão elásticos e resilientes como na ginástica olímpica… Aprendemos o valor de saber levantar e tentar mais uma vez. O futebol masculino finalmente consegue o título inédito e em cima da Alemanha. Revanche de lavar a alma. Recorde de medalhas também nas piscinas paralímpicas. Quanta inspiração, quanta superação!
Mas não foi só isso em nosso esporte. Felipe Massa é ovacionado em Interlagos em sua (quase!) despedida da F1. Dentro e fora da pista, demonstrações de um fair play bonito de se ver. Aplausos é a maior mecânica de construção de máquinas humanas mais poderosas. Tem coisas de que não sentiremos saudade, mas outras tantas que se tornam eternas. Equipes que se juntam em homenagem. A disputa não precisa ocupar todos os espaços de nossa vida.
2016 é história. É fim do embargo em Cuba. Fidel morre, Hillary perde, Robôs mentem. Boatos espalhados são apontados como decisivos para a era da pós-verdade. Não para aí. Tráfico de influência na presidência da Coreia do Sul e impeachment aprovado. Mais uma presidenta afastada. Impasse no parlamento espanhol, a Venezuela caindo de Maduro. BREXIT! Rússia e Estados Unidos disputam forças no fronte da guerra síria, que continua a devastar, a expulsar, milhões de vidas. O novo êxodo parte de cidades sitiadas para fronteiras fechadas, assentamentos, refugiados numa jornada desesperada por sobrevivência.
Não dá para entender… Trump, um presidente inesperado que é capaz, com um tuíte ou com um telefonema inusitado, de gerar crises internas, suscitar preconceitos adormecidos, de diplomacia e estremecer a relação com a China, que por sua vez promete endurecer o tom a partir de 2017. Seria o começo de uma nova divisão da ordem mundial apresentando-se sem sutileza? Que muro é este que se erguerá entre nós, a geração virtual?
Tem tiroteio em boate, caminhões que avançam sobre cidadãos, tiro em galeria de arte. Lobisomens. Alguns deles, no Brasil, flertam com o Estado Islâmico, mas são presos por associação ao terrorismo. Explosões, terremotos, pray for… Planeta Terra.
Aviões caíram. Como caíram. O Chapecoense, todos os jornalistas que estavam a bordo e membros da tripulação criaram o primeiro time de futebol universal, capaz de unir rivais históricos; vestiram o mundo de verde e branco entoando “força, Chape!”. E nos fez ainda mais próximos dos Colombianos (aqueles dos carrinhos violentos em campo). A dor dilacera, mas também é capaz de construir fortes relações, de desmistificar percepções. O acordo de paz com as FARC está firmado. Quem diria que esse dia chegaria…
Em terra, nossas rodovias interromperam a jornada de ônibus, carros, caminhões e motos. Para citar dois, excursões em São Paulo e no Paraná vitimaram mais de 38 estudantes e idosos. E sabe o que é mais triste? Apesar de toda dor, apesar de experiências como a da cidade de São Paulo provarem que com a diminuição da velocidade nas vias públicas o número de acidentados fatais diminui, os motoristas criticam, reclamam e preferem um novo prefeito-gestor que promete acelerar a cidade. As vidas nunca valeram tão pouco.
Os partidos de esquerda também não, e saem arrasados das disputas pelas cidades brasileiras. É o ano da guerra dos táxis ao UBER, do centenário do samba. É o ano em que presidiários tocam o terror no Rio Grande do Norte e que nossa floresta abre espaço para mais campo de soja e gado. São animais contrabandeados sem que haja punição. Há paraíso, consciência, senso moral… lei neste país?! Na educação, uma reforma contestada, ocupação ou invasão, vazamento do ENEM. Nenhuma novidade… Um incêndio de mais de quarenta horas em Santos que deixa parte da população debaixo de uma cortina de fumaça, que dissipa. Mas a lama fica… O acidente da Samarco completa um ano com quatro empresas e 22 funcionários no banco dos réus. Haverá justiça dessa vez?
A ciência avança em alguns tratamentos. Remédio para profilaxia, mosquitos transgênicos assassinos e um chip que é capaz de identificar no corpo humano a presença de 18 variações da células cancerígenas. Mas acompanhamos a volta com tudo da caxumba, da sífilis e de um repaginado Aedes Aegypti: mais dengue, Zyka, Chycungunya. E dá-lhe epidemias, calamidades públicas. Super bactérias! A impressão é de que estamos não à beira, mas no próprio colapso social.
Outra febre daquelas, os Pokémons invadiram nossas cidades trazendo um novo jeito de interagir com os smartphones. Precisamos mesmo passar mais tempo nos celulares? Ufa! Como veio, foi. Óculos de realidade virtual, Black Mirror, Justiça. A vida imita a arte nas águas do Velho Chico.
E “a arte existe porque a vida não basta“, mas que ninguém duvide que os passos ficarão, de alguma forma, para sempre em nós. Descanse em paz, Ferreira Gullar, Domingos Montagner, Elke, Cauby, Bowie, Muhammad Ali, Prince, George Michael… freedom!
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