O comodismo é um veneno não fatal, mas daqueles que pouco a pouco vão atrofiando todos os traços de personalidade que nos tornam únicos. A apatia, o aceite sem o questionamento inevitável, o receber sem se entregar. Não chegamos até aqui para reproduzirmos tiques, trejeitos, defeitos. Não viemos ao mundo para seguir modelos, copiar estilo, repetir discursos sem algum senso crítico.
É fácil apertar o control c na vida e achar que está tudo certo. Dá para levar as coisas na boa e sem grandes aporrinhações só seguindo o fluxo… passando despercebido escondido atrás de pessoas que admiramos e veneramos, que seguimos e curtimos. É quase assintomático não se dar conta de que estamos no control v, ligados no automático, reprodutores em larga escala de movimentos que sabe-se lá onde surgiram, mas que são #antenados. A manada segue feliz, atualizada em sua ignorância e coerentemente alinhada a um discurso totalitário. A pluralidade é uma farsa na qual gostamos de acreditar
Antigamente tinha aquele papo de alienação às grandes potências, aos principais meios de comunicação de massa. A facilidade de apontar os EUA, Hollywood, a Globo e a Veja como os inimigos número 1 de um mundo vendido ao interesse do capital. Imperialistas, mídia golpista! Não que tenha mudado muita coisa, mas os influenciadores hiperconectados também passaram a ser muitos de nós, seres humanos sem qualquer competência ou preparo, manejo, para pastorear a manada, mas que são idolatrados dentro de suas peculiaridades/excentricidades. O destino? Ninguém sabe. Todos continuam certos de que estão no caminho e copiam e colam, sem qualquer constrangimento, detalhes que deveriam ser apenas observados à luz da crítica. Como conseguir filtrar tanto lixo? Como separar o joio do trigo, a informação da pura futilidade?
Confortáveis em nossos postos e protegidos pelo anonimato da grande rede, caímos na maior das contradições: vamos nos expondo como nunca antes na história da humanidade. Achamos que estamos em uma zona de conforto, mas vivemos na trincheira de grandes conflitos, prontos para entrar em guerra com nós mesmos por um único objetivo: a uniformização do pensamento. E ai de quem ousar discordar! A arma nuclear, aquela de força desproporcional, um simples clique que é capaz de silenciar, apagar, bloquear o contraditório.
É cômodo, mas está longe de ser saudável e de contribuir para a perpetuidade da nossa espécie. Chegamos até aqui discordando uns dos outros e dificilmente sairemos do lugar em comboio.