Tudo que existe resiste de alguma forma. É sobre manter-se em pé, acordado, vivo. Buscar ser feliz, dar a volta por cima, sacudir a poeira e não desistir na primeira queda. Agora me diz como se lá, naquele lugar, parece não haver amanhã?
É uma bomba que cai e que é horrível. São outras tantas bombas que caem saudadas como salvação. Duas utilizações e interpretações que descem ora como dor ora como cura. Mas a bomba é uma coisa só: morte. Morre ali a vida como era conhecida!
A poeira é sacudida e os escombros empurrados para o lado. É preciso liberar passagem para ambulâncias e equipes de socorro em busca por sobreviventes. As macas chegam junto com máquinas portáteis, que revelam fotos, registros precisos de uma realidade marcada por dor e sofrimento, pela perda de filhos, pais e amigos, pela destruição de casas, hospitais e escolas, pelo fim daquela vida.
É choro, grito e desespero presos num retângulo que nos transportará por alguns instantes até lá, sem que contudo entendamos da dor, da descrença e da desilusão que estão impressas. O sofrimento de quem está nela é escuridão… Nada de poesia, composição ou plástica envolvida. A foto é papel, luz e tinta, que mostram não só o que queremos, mas também o que precisamos ver. Só que não basta.
É preciso também que escutemos os sons que vêm de lá, que sintamos o cheiro que emana dos escombros, que toquemos nos corpos sem vida de quem tanto amamos e que o gosto da morte não seja um pesadelo, mas a noção que se tem de um futuro próximo. É preciso que haja um amanhã para a Síria e que ele comece hoje, agora.