A Greve da Gente

A gente para de comer, de transar, de trabalhar e até de viver, com a expectativa de que logo seja atendida para comer, transar, trabalhar e viver mais. Os braços se cruzam, pneus são queimados, ouvem-se gritos, palmas enquanto ruas, avenidas e rodovias são fechadas. Bancos não abrem as portas, Correios também não. Escolas e universidades fechadas. Ônibus e trens não saem de suas garagens.

Policiais, médicos e professores – para falar de profissionais de três das áreas mais críticas do país, que é a segurança pública, a saúde e a educação – decidem a todo instante que precisam parar. E a sensação que fica é de que, mais uma vez, quem paga é a gente.  Não dá para achar muito justo já que ter um povo forte (física e intelectualmente) seja talvez a única chance de uma transformação real e duradoura. Diante disso, paralisar tudo medindo forças adianta ou piora o quadro?

A greve atinge a gente, reverbera nos outros e paralisa não só a estrutura social, econômica, mas também a vida pessoal – e, infelizmente, não só a daqueles que acreditam que só mesmo a luta, a dor e o sofrimento, pavimentam vitórias. Interessante que a gente tenha evoluído pouco nesta forma de exigir direitos, de clamar por melhorias e pedir mudanças. Que a gente não se enxergue no caos estabelecido como o começo de toda a balbúrdia e esculhambação.

Ora, se sindicatos e organizações têm tanto poder de mobilização, se o grito conta tanto, como não ainda não conseguem eleger políticos que atuem a favor de suas causas e que sejam competentes a ponto de barrar lá no começo, toda a sandice, por exemplo, de uma Reforma da Previdência e Trabalhista não coerentes à vontade da maioria?  Há algo de pouco moderno ou ineficiente na atuação preventiva dos mesmos.

Por que parecemos sempre estar correndo contra o prejuízo, lutando contra o estabelecido? Por que será que não conseguimos ser agentes transformadores no início da equação, transformando a causa e não sofrendo passivamente as consequências até explodir por não ver outra alternativa? Atuamos como arquitetos ou demolidores sociais?

Enquanto o foco estiver na luta e não na construção, entrará ano e sairá ano com a mesma ladainha de sempre: quem hoje está de greve? E o mais grave, como faço para sofrer menos com isso? É não se sentir parte da luta, de uma causa… Quem ganha com isso que parece não ser a gente?

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