Decomponha este lamaçal, destrinche toda essa sujeira. Manobre com argumentos, desconstrua os fatos, recrie os acontecimentos. Paralise as investigações, suspenda a ação, devolva os problemas como se eles não sujassem as próprias mãos com um barro “empobrecido” (jamais “enriquecido”!) por metais pesados. É rejeito, é dejeto e é a sujeira do maior desaste ambiental do Brasil chegando a novas instâncias. Na notícia de hoje: “justiça suspende ação que pode punir responsáveis por tragédia de Mariana“.
A velha história dos dois pesos e das duas medidas, da justiça seguindo um roteiro conhecido, aliada de quem tem o dinheiro, do poder econômico que é capaz de criar defesa no indefensável. É tumulto no processo embolando o meio de campo, criando rachaduras mais profundas do que as abertas em barro seco. Um grampo telefônico que emperra o tanto que a lama varreu.
Ainda que uma liminar, ainda que uma decisão temporária, é mais uma vitória das mineradoras, da Samarco, da Vale (aquela que dizia ser DO RIO DOCE), do diretor-presidente licenciado da Samarco (Ricardo Vescovi), do diretor-geral de Operações da empresa (Kleber Terra), daqueles mais de 62 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos de minério… E é a derrota de povoados destruídos, das 19 vidas perdidas, 11 toneladas de diferentes espécies de peixes mortos, fauna e flora no limbo, uma cadeia alimentar destruída, todo um ecossistema comprometido e que depois do crime de 2015 poderá levar décadas para voltar ao equilíbrio.
Perde o IBAMA, a bacia do Rio Doce, uma Bento Rodrigues enterrada, outras 39 cidades ribeirinhas diretamente afetadas, brasileiros de Minas Gerais, do Espírito Santo, do litoral sul da Bahia que acompanharam o desastre escoando lentamente até a porta de suas casas. Perdem os corais de Abrolhos, as águas do Oceano Atlântico, mais fauna e flora do ecossistema brasileiro, do planeta Terra. Perdemos todos.