É espaço a ser preenchido, branco, liso, pura agonia e pressão. É ameaça, ponto de partida e que engasga. Demora a sair um traço, depois outro que logo se torna parte de um pensamento ganhando vida. Mas é ruim, não parece adequado ou satisfatório. Como é impressionante a capacidade de confrontamento de uma folha vazia e o tanto que ela diz sobre quem está rascunhando, rabiscando, rasurando.
O mundo é preenchimento constante e ininterrupto. Do vazio que é preenchido com amor e também povoado de rancor. Do vazio do vazio, que é depressão e morte em vida. Daquele existencial, que pouco oferece em respostas. É vazio que é uma sensação estranha aqui dentro, mas que é também espaço disponível para grandes revoluções.
Ao escolher escrever afrontas, a desenhar dias complicados e densos, a carregar demais na tonalidade das emoções envolvidas, damos ares dramáticos, intensos e pouco maleáveis a uma vida que já tem doses de crueldade pré-definidas. O que é vazio vira ruindade, que afasta até que ancora em solidão. É porto desprotegido, zona aberta, desmonte e corrosão.
Já que nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá, se o fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar, não custa torcer para que todos caminhem numa linda passarela. É paz, são contornos leves, porém firmes e é dizer sem ofender. Utopia dessa aquarela que um dia descolorirá.