Ontem tivemos uma avalanche de compartilhamentos sobre a postura de Mônica Iozzi em não aceitar negociar uma retratação com o ministro Gilmar Mendes após perder a ação por criticá-lo no Twitter pela decisão de absolver o médico acusado de ter cometido mais de 40 atos de estupro, Roger Abdelmassih.
Ao dar, com toda razão, tanta ênfase na coerência, postura e maturidade demonstrada pela atriz, deixamos de lado uma declaração forte e profundamente reflexiva sobre as causas para ela ter saído de vez de todas as redes sociais. Ela afirmou que “chegou num momento que uma seguidora disse: ‘entendo e concordo com você, mas cuidado que você está perdendo a alegria’. Eu concordei. Estava me afetando e pra gente continuar lutando, porque encaro minhas posições como uma luta, tem que ter alegria, esperança no fundo do coração e as redes estavam matando a minha esperança”.
As redes sociais, os desdobramentos das publicações mais sensíveis (sobre política, religião, orientação sexual) que acontecem principalmente dentro dos comentários, têm revelado muito de um lado obscuro, cruel, desumano e por vezes até criminoso de ataque ao contraditório.
É ali, ou aqui, que muitos de nós se sentem a vontade para defender seus ideais, valores e crenças não com argumentos propositivos, mas ancorado no ataque descontrolado a índole, ao caráter descambando para o mais aberto e sórdido preconceito. Vale tudo para desmerecer o outro lado, ainda que nós mesmos estejamos na mira, sejamos um alvo.
“Um dia para o fim do mundo” nasceu para ser um espaço de debate, nem lá e muito menos cá, dando o ponto de vista daquilo que eu acredito, mas sem cercear o direito que todos vocês que me acompanham também têm de expressar o que acreditam neste que pode sim ser o último dia de nossas vidas.
Ao achar que podemos registrar o que temos de pior nesta imensa nuvem negra que se forma sobre as nossas cabeças, ao usar a tecnologia para exercitar um lado de nossa personalidade que deveria ser constantemente combatido/evitado, perdemos a noção de realidade do que vale a pena nesta vida, o vínculo com o outro, o sentimento de sermos todos parte de algo maior. Não podemos matar a esperança de que dá sim para construir algo positivo e ter alegria em reconhecer as tantas diferenças que existem entre nós.