O não-reconhecimento dos capixabas que saquearam a economia local diante da greve da Polícia Militar é triste e prova a mais pura ignorância de como tudo está interligado nesta vida. A vantagem desleal obtida hoje é o prejuízo de todo um ecossistema amanhã; feridas que virão à vista, sem doses parceladas capazes de atenuar a deterioração do elo que nos une como uma sociedade orgânica, viva.
Como uma bola de neve, a avalanche de delitos varreu para dentro do caos social inclusive os ditos paladinos da moral, os cidadãos de bem, que não pouparam as cordas vocais gritando para que motoristas atropelassem os furtadores e assaltantes. Assim mesmo, “passa em cima”, “mata”, “atropela”.
Isso prova que basta uma brecha para seres humanos virarem bichos. A ordem social é frágil demais, gente, e os exemplos de mau-caratismo fazem escola e esculpem um corpo social onde faltam valores e respeito, essas pernas que sustentam e dão equilíbrio. Faltam referências do certo e do errado em todas as instâncias, que reverberam o apocalipse, o desmoronamento das bases do convívio entre seres pensantes, capazes de se colocar no lugar do outro.
Quando isso deixa de existir, sobra o silêncio, a perplexidade e a morte lenta, agonizante, da cumplicidade. Fica o olhar desolado do comerciante que ilustra a este post com toda a sua paralisia diante de um balcão vazio. De certa forma fizemos uma escolha: perdemos a fé que tínhamos. O laço que nos unia arrebentou. Agora é cada um por si e ninguém por todos.