Piso forte, mas tenho uma perna fraca. Acerto o ritmo, mas cometo deslizes as vezes tão estúpidos que me envergonham só de lembrar. Tenho atitude, embora certas vezes seja acometido por uma timidez tão genuína, que logo já é palpitação, suor frio, pernas em batidas nervosas debaixo da mesa. Choro – de alegria e de tristeza – e danço conforme a música embora as vezes reste apenas silêncio e o som da ausência.
Adoraria falar de esperança, mas mais uma bomba explode e mata crianças inocentes. Onde? Em todos os lugares. Queria trazer a racionalidade enquanto caçadores de animais se divertem em safáris audaciosos; gostaria de estar mais próximo, mas caçadores de homens se entregam à fé cega, suicida. Poderia dizer bem feito para a morte de uns, para a desgraça de outros, para a justiça que tarda mas não falha, mas isso é só a pior parte, exemplos raros num mundo que sobrevive em espasmos de horror e mal se equilibrando numa corda bamba.
Roo unhas que deveriam ter o direito de crescer em paz. Sinto o chão abrir sob os meus pés e o mundo pesar sobre minha cabeça. Penso nos problemas, nos defeitos, em todos os deslizes. Não há um dia que eu me esqueça disso, em como somos fracos e sucumbimos facilmente ao ódio e ao medo. O peso de carregar a própria consciência, de chorar o leite derramado, de pagar a própria língua e arrepender quando não há muito o que fazer. De ver que não deu certo e que só nos resta aceitar e seguir em frente… Talvez demore anos para voltarmos aos trilhos, quem sabe não tenhamos resistência para tanto, pode ser que nos falte sorte para chegar lá.
Sim, lá… Lá dentro, entre tantos pedaços de nós, onde se encontra a força esquecida em meio a sonhos abandonados. A volta por cima que tem um sabor de reencontro com a autoestima, de poder confiar em si próprio, nos seus músculos, e também na força que vem dos outros, dessa soma que se agiganta e move o mundo para frente. Do coletivo população, multidão, time, comunidade, exército… Apostando na perna forte que cada um tem, colocando-nos de pé e não fraquejando quando precisarmos de amparo em travessias sinuosas ou nas mais longas jornadas.
