O relato (desabafo? acusação?) da “mulher branca, bonita e alta” sobre o assédio que sofreu nos últimos meses do ator Zé Mayer é um prato cheio para discutirmos algumas questões importantes, como o próprio assédio, a omissão e a confiança de que ferramentas sociais, como um blog são instrumentos de denúncia e para se fazer justiça.
Em primeiro lugar, no imaginário de Susllem Meneguzzi Tonani (publicado hoje, dia 31 de março, pelo blog #AgoraÉqueSãoElas da Folha Online) de certa forma, o fato de ser o que é – “branca, bonita e alta”, nas palavras da mesma – foi suficiente para ser o estopim de um crime. Sim, assédio é, infelizmente, um dos crimes mais perversos e comuns que temos em nossa sociedade.
A figurinista, contratada para a novela A Lei do Amor, teria aguentado por meses cantadas chulas, provocações machistas, insultos sexistas até um derradeiro “vaca” dito pelo ator na frente de mais de trinta outros profissionais dentro de um estúdio de gravação.
Su conta que foi ao RH, ligou para a ouvidoria, foi ao departamento que cuida de atores. Acessou todas as pessoas, todas as instâncias e contou sobre o assédio moral que há meses vinha sofrendo. Só não ficou claro se foi a uma Delegacia da Mulher prestar queixa.
A questão é séria e levanta pontos não só do assédio moral e sexual que ela pode ter sofrido. É importante questionarmos também o fato dela ter esperado tanto tempo para se posicionar, de não ter feito um boletim de ocorrência, de parecer mais preocupada com o fim da novela e, consequentemente, do contrato a qual está submetida do que com a gravidade de ser subjugada em um ambiente de trabalho, ou ainda o RH, a ouvidoria, o departamento que cuida de atores, os outros 30 colegas de trabalho (testemunhas? cúmplices?) que estavam no set de filmagem e que se calaram diante de tudo isso. E se a escolha de publicar isso só agora ter partido da própria Folha, do #AgoraÉqueSãoElas?
O blog ainda dá espaço para que Susllem confesse um medo de que ela “engrenagem, mulher, paga por obra”, seja quem leve a fama de oportunista. E se acharem que ela deu mole? Será que vão contratá-la outra vez? A opressão é algo seríssimo, gravíssimo e precisa ser sempre discutida, debatida, denunciada para de alguma forma educar, coibir e punir machos indomáveis.
Sem tirar a gravidade do que pode ter acontecido, Su, mas esperar a última semana de gravação (timing perfeito ou tarde demais?) para trazer à tona algo tão sério e em um blog diz mais sobre a protagonista do que sobre o novelo. É medo, vergonha, covardia ou oportunismo? Diz aí.