Era a notícia que não queriam dar, que não gostaríamos de ler, que talvez até tivéssemos a intenção de ignorar, tentando ao nosso modo fugir de um problema iminente, presente e pulsante novamente na vastidão deste país tão diverso e sofrido: a fome voltou.
Antes fosse só polarização, a quase guerra civil no campo intelectual, a divergência de ideias dos rumos político-econômicos do país ou o confrontamento entre sonhos e utopias do Brasil-grande do futuro. Mas tinha a urgência das taxas crescentes de desemprego, o aumento da informalidade, a galopante subida dos preços, a perda do poder de compra, a impossibilidade de honrar os compromissos do mês, a dívida incontrolável, os juros e as taxas exorbitantes, as ruas com seus novos moradores, o álcool, a droga, a depressão, o suicídio, os roubos e os assaltos, as prisões cada vez mais cheias e criando outras levas de criminosos. A morte não de um, mas de milhares, milhões de sonhos.
Ela voltou e não pela boca da oposição, desse ou daquele partido, coxinhas ou mortadelas. Coube a Organização das Nações Unidas (ONU) inserir o Brasil de volta ao mapa da fome, provando – se é que alguém tinha dúvida disto – que as nossas prioridades estão completamente equivocadas. É o retorno do angu puro, ralo e sem graça, do “mãe, tem leite?” e do “vai dormir que a fome passa” como traz esta triste reportagem do Jornal O Globo.
Não passa, não resolve, não alimenta. Quando o assunto é fazer sopa de barro, tirar leite de pedras, revirar lixos em busca do que comer (e o pior… ainda assim não ter o que comer!), não há disputa que se sustente. Não estamos falando de um jejum programado, de passar fome entre uma ou outra refeição. A questão é querer, precisar e não saber quando se alimentará de novo. A fome, que não espera que as coisas se acertem, é e sempre será a maior de nossas derrotas e precisa ser combatida com prioridade absoluta.