A Odebrecht emprega mais de 128 mil pessoas que não são diretamente culpadas pelos crimes cometidos pela liderança, mas cujas carreiras estão manchadas pelo elo de uma família de sobrenome poderoso (que virou marca tipo exportação) a políticos com apelidos constrangedores.
O negócio Odebrecht vai além das obras faraônicas – que passado algum tempo mostram-se emblemáticos elefantes brancos – ou a ligação de lugar algum a lugar nenhum. São empreendimentos habitacionais que se tornam casas, que são considerados a “vida” entre as camadas mais pobres deste país. São encanamentos que levam água potável e que canalizam o esgoto, e são portos, aeroportos, linhas ferroviárias e de metrô que permitem ir e também vir. É energia e é petróleo… Tudo com muito atraso, recalculado na urgência de prazos apertados, superfaturado e de qualidade questionável.
São tantos braços de atuação que mais parecem tentáculos a envolver a nossa economia dos pés ao pescoço, entregando ao povo brasileiro itens de necessidade básica a outros garantidos por direito. A dependência e interdependência que é a materialização daquilo que desconfiávamos, mas que se mostrou meticulosamente profissional e bastante institucionalizado. Grande demais para ser contido, freado, evitado.
Como aquele fio de linha que uma vez puxado é capaz de descosturar uma cortina inteira, começamos a desconstruir a república tal qual ela se formou. Achamos que o mensalão seria o suprassumo da coragem e audácia de nossos políticos. Não foi. Puxamos mais um pouco e veio o petrolão, um buraco muito mais profundo que os cavados pelo pré-sal. Não parou aí… Dia a dia, operação a operação, chegamos nas portas da diretoria da Odebrecht e em milhões superados por outros tantos milhões tirando de todos a percepção real do montante desviado. Passamos a falar em setenta, oitenta milhões surrupiados por uma só pessoa como se não fosse muita coisa. Já imaginou tanto dinheiro investido em saúde, segurança e distribuição de renda, companheiros?
Só que o fio continua aí, desencapado e pronto para implodir outras tantas caixas de pandora até o dia que enfim chegar nos cofres do BNDES. O que poderá vir a partir de uma fagulha neste campo de centeio propício a um incêndio sem fim? Melhor não sofrer por antecipação.
Quem perde com essa história não é só a Odebrecht, e sim todos nós que dependemos de organizações que são tão criminosas quanto pouco profissionais; que somos negligenciados por um estado costurado pela corrupção. O mesmo estado que nos vende a ideia de que não há dinheiro para fechar as contas existentes, que exige que demos sempre mais do pouco que nos sobra para a manutenção dessa estrutura mal-ajambrada, mas que são minas de ouro para quem sabe ler o jogo (e não tem limite ético).
Roubando de todos nós, a Odebrecht roubava também de quem dela dependia direta e indiretamente. Provavelmente tirou de concorrências empresas sérias que não sabiam performar nesse ambiente promíscuo. A Odebrecht nos ensinou que jeitinho não é qualidade inerente de ser brasileiro, mas a perspicácia de se tornar um gigante com atitudes sorrateiras. Uma vergonha nacional, uma marca a ser derrubada e um sobrenome a ser esquecido. Que estes 128 mil funcionários tenham a chance de muito em breve prosperar em um ambiente profissional que não os envergonhem e que seja no fim só inspiração e muito orgulho.