Acho que nunca mais seremos os mesmos. De alguma forma perdemos a ingenuidade que fazia de nós festivos, amistosos e fáceis de lidar. O caldo entornou e experimentamos o sabor da separação.
Levados por notícias, pelos fatos, influenciados por nossas interpretações e por visões de mundo tão conflitantes; enganados por mentiras às quais adoramos credenciar e potencializados por uma rede de comparsas, nós fechamos a guarda e nos preparamos para o golpe. Mas não éramos tão vítimas assim dos fatos: quando tivemos a oportunidade atacamos também. Não nos fizemos de rogados em revelar um lado terrível, violento e vingativo.
A conjuntura criou rachaduras, que fizemos questão de contemplar. De onde estávamos, anunciávamos o inferno, dávamos nomes aos demônios e prevíamos a próxima cartada da penitência a ser cumprida. Cada um com sua ferramenta, ao seu modo, cuidou de abrir ainda mais o buraco, que logo já era um abismo entre dois mundos. E ai de quem tentasse dialogar com o outro lado… A divisão já não permitia pontes!
A falta diálogo não criava cooperação, não gerava a solução para um abismo que já engolia tudo, a todos nós! E antes que pudéssemos nos arrepender de tanta intransigência, de tamanha ignorância, fomos tomados pelo fogo ao som das risadas de quem ainda não tinha sido sugado pela onda do mal. Eles achavam que escapariam.
Acho que nunca mais seremos os mesmos, mas gostaria de estar errado. Não permita Deus que nós morramos sem voltar para lá – aquele outro Brasil, lembra? – e sem que desfrutemos os primores que não encontramos por cá. Sem qu’inda avistemos as palmeiras onde canta o sabiá.