É função da arte tocar em temas proibidos, polêmicos, arredios, doentios, incômodos para gerar reflexão e conscientização da audiência. Arte que é pintada, rabiscada, desenhada, escrita, fotografada, esculpida, tocada, dramatizada, cantada…, para nos tirar da zona de conforto e fazer pensar além.
É esperado que ela, a arte, emocione, enraiveça, entristeça, alegre, sendo o princípio de uma reflexão e não o fim de uma doutrinação. É mais do que esperado que ela desperte sentimento parecido como os dos visitantes que estiveram na exposição “Queermuseum” (promovida pelo Santander no Centro Histórico de Porto Alegre) e que gravaram um vídeo expressando o mais crível inconformismo (nojo? perplexidade?) num repúdio massificado nas redes sociais pela turma do MBL.
O erro é achar que o melhor é a ausência da discussão, do confrontamento, uma sala fechada e vazia, frente a toda a força transformacional que existe quando somos expostos e levados a encarar de frente nossas mazelas. É a ruptura diante do que nos é novo que interessa. Não fosse assim, para que perderíamos nosso tempo indo a uma exposição, ouvindo uma música ou assistindo a um filme ou peça?
É por isso que o erro é seu, Santander, que não teve o culhão de manter a pose libertária, transgressora e reflexiva dando à arte a importância (e com os limites) que ela tem, cedendo a pressão de uma corrente de pensamento quadrada, limitada e pouco acostumada a não-linearidade de um discurso. Em arte, não se aprende só de um jeito, não se educa só de uma forma, não se comunica só com lugares-comuns e verdades reproduzidas em clichês e sensos comuns palatáveis.
Ao fechar os olhos para a blasfêmia, zoofilia e pedofilia contida nas representações, ao tirar essa discussão do incômodo e do repúdio que naturalmente provocam, amplia-se a ideia da ignorância que liberta (o que é uma tremenda mentira), e desconsidera a força da reflexão como a fagulha necessária para a evolução de qualquer sociedade. Não é porque não vemos, ouvimos e falamos que determinadas coisas deixam de existir. E é justamente por preferirmos não ver, ouvir e falar com profundidade sobre certos temas que eles continuam a ser tão danosos ao nosso meio. O esperneio/chilique do MBL é a prova de que o “Queermuseu” é necessário e cumpriu o seu papel. Precisa mesmo desenhar?