A freada é brusca e a borracha mancha o asfalto liberando cheiro de um atrito não esperado. Para tudo! Onde estamos errando? Que caminho é este que escolhemos? Hoje, a última esperança para restabelecer o controle e voltar ao domínio, mas acabamos desistindo antes mesmo de tentar.
Vamos contornando as esquinas e acendendo luzes em becos escuros, agarrando-nos a boas histórias com a esperança de que continuemos longe da catástrofe. Que possamos esquecer o mundo-cão que avança sobre nós e que nos livremos daquela parte que questiona, que nos envergonha, que nos desdiz, que nos coloca como parte dessa humanidade torpe, isolada, que age de má fé ou que se omite quando é conveniente.
Quem liga mesmo para seres humanos agarrados embaixo de trens a mais de 150 km/hora? Se botes lotados de africanos enfrentam um mar agitado no Pacífico? Quem não liga são os mesmos que se incomodam quando a praia é invadida, quando um dia de sol é manchado pelo desespero dos que só querem sobreviver.
Você acostuma a não se colocar na equação… Jamais poderia ser com você até o dia em que acontece com você. Desvia-se das sujeiras, esfrega-se bem os pés no capacho; lava-se as mãos, mas as impurezas da vida são como aqueles 0,1 % que nenhum bactericida é capaz de eliminar. O mundo cruel que existe ainda que se mantenha distante dele.
O mundo nos engole sem preparo ou cuidado. É um tsunami, um furação ou um terremoto de descaso, indiferença e insensibilidade. O que não é problema seu, mas que é pura dor, sofrimento e destruição. A farsa de um discurso repetido em olhos cada vez mais acostumados a desgraça. Já não tinham casa, comida, sonhos… Mas você julgava, criticava e se afastava. “De novo”; “daquela vez foi pior” nesta forma estranhamente louca de somarmos números, que são corpos, que eram vidas e que tinham alguma esperança de serem como nós.