E dai-nos mais circo, senhores, doutores, vossas excelências! Ofereça, em meio ao caos, o remédio para a dor. Imposte a voz para alardar a grandiosidade de um ano que virá num calendário que ressalta a maravilha que lhe cabe… Rio, de Janeiro a janeiro, de evento em evento, assim mesmo meio que deixando de lado o que acontece nos cantos menos favorecidos da cidade.
A economia precisa girar, empregos surgir, oportunidades para uma massa operária servil que erguerá a baixíssimo custo o maior carnaval do mundo, uma importante semana de moda, a maior feira editorial do país, um campus de tecnologia, mais um campeonato disputado seja em saibro ou piso duro, além de grandes shows com estrelas internacionais. Dinheiro que virá de bilheterias caras e inalcançáveis a quem mais precisa de cultura na cidade.
O Rio precisa de políticas públicas de verdade, não apenas para dar a festa que o asfalto tanto gosta de celebrar, mas para subir o morro e lá ficar promovendo uma transformação profunda e libertadora. Mais do que anunciar um audacioso plano de ativação econômica pautado no turismo – que é importante, obviamente – é imprescindível que instâncias políticas carioca, fluminense e federal justifiquem tal empenho aplicando melhorias imediatas na educação de base; que assinem um termo comprometendo a reinvestir os lucros nas zonas mais pobres da cidade; que ofereçam parte dos ingressos gratuitamente para quem sempre esteve à margem do conceito de Cidade Maravilhosa; e que sentem juntos e gastem a energia que for necessária para estruturar (utilizando mais inteligência e menos violência) um plano de desarticulação do narcotráfico começando com quem financia o sistema.
O Rio de Janeiro pode se tornar um case nacional – não de como fechar os olhos e comemorar em meio ao caos – mas sobre como sair do fundo do poço por meio da inclusão social. Não custa tentar!