Não sei vocês, mas após meses de assuntos tão intensos quanto voláteis, eu me sinto exausto, sem energia, completamente cansado para de alguma forma balizar o que passou tentando interpretar os fatos com o copo cheio, para, enfim, sonhar com um 2018 mais esperançoso.
A frustração veio como produto daqueles muitos momentos em que acreditamos ser possível, que as coisas finalmente se ajeitariam, até que desandassem e fossem engolidos por outro assunto estarrecedor. Foram cortes justificados como essenciais, comprados pela maioria que ralou, suou, compreendeu ser necessário um esforço extra para melhorar a economia, diminuir o desemprego, a desigualdade, a fome, enquanto salários eram inflados, emendas e cargos distribuídos entre acusados em operações da Polícia Federal como se isso fosse natural do negócio (e não mais um escândalo da falta de pudor da política nacional).
Cortes. Nunca falamos tanto neles empurrando a responsabilidade deste Estado inchado para cima de uma população que é obrigada a contar moedas para fechar o orçamento. Estraçalharam como puderam as provisões à segurança, para a saúde, ao combate da pobreza e ao fomento da educação, cultura e ciência, como se tais setores correspondessem a gastos, e não investimentos! Empurraram para um futuro ainda mais distante a esperança de dias melhores e mantiveram o país preso ao velho esquema que beneficia descaradamente uma pífia parcela de nossa sociedade, que acaba por especular sobre a nossa economia ao invés de investir nela.
E no jogo das forças, terminamos com a convicção de que não adianta poderes tão independentes quanto complementares para manter a ordem democrática, se no fim das contas uma canetada livra criminosos confessos a viverem o luxo construído sob a sombra da tragédia de milhares de vidas.
Vai, malandra, malandros, em 2017 é o novo hino nacional, longe do recente funk empoderado de Anitta, mas na consciência coletiva de que por aqui vale a máxima de que com dinheiro (principalmente se for sujo) estabelece-se acima do bem e do mal, das leis, da justiça.
* Em tempo: deixem o funk, a bunda/celulite, a sagacidade/inteligência, visão de negócio de Anitta brilharem como grande estrela que é do cenário musical latino-americano em 2017. Ainda que não faça seu tipo (o funk, a bunda, a celulite, a sagacidade, inteligência e visão de negócio da moça), não reconhecer os méritos de quem está colhendo os frutos de um trabalho sério e honesto é perder-se na crítica por um gosto pessoal.