Viver no presente é estar no limbo entre a saudade de um passado superestimado e a ilusão de um futuro idealizado. É estar aqui, com saudade dali e esperando por lá, nunca satisfeito com a calmaria. É querer que chegue logo amanhã, ter pressa, mas ser levado pelas boas lembranças e concluir que deveria ter aproveitado mais. Se pudesse voltar no tempo…
Crescer é acostumar a estar um passo à frente: estudar para passar de ano, para entrar na faculdade, para ter uma profissão, para ser bem sucedido, para comprar um carro, uma casa, casar, ter filhos, educá-los, poder ter uma velhice tranquila, pagar um bom plano de saúde… Isso entre tantas outras metas que podem se encaixar durante um ciclo de vida. É a dor que tem que passar logo, a festa que não pode acabar. Viver e não querer morrer, como se fosse possível.
Perde-se tanto romantizando um ontem que não se repetirá ou poetizando o amanhã, que o agora fica em segundo, terceiro plano. Talvez devesse esquecer um pouco o que já foi e controlar ao máximo a ansiedade pelo que (talvez) virá. Esquecer a insatisfação, esse incômodo recorrente e focar no que interessa. Viver o luto, encarar a perda, não ter que fazer o que quer que seja por obrigação, aproveitar a conversa sem temer a hora do silêncio, o até logo ou o adeus, respeitar os limites aos quais todos estão submetidos – sejam eles pelo cansaço, pela falta de força, vontade ou mesmo tempo de se concretizar.
A plenitude do hoje é capaz de construir passados gloriosos e também de sedimentar a rota para um futuro promissor. Por que então essa necessidade de retardar ou acelerar a vida? Qual o problema de deixar-se levar pelo ritmo das coisas uma vez ou outra? Querer pegar atalhos fugindo da realidade não torna ninguém mais forte ou preparado… Ao contrário: revela seres fracos, presos e sem muita perspectiva de evolução nesse mundo que não para de acontecer bem debaixo dos olhos de quem é capaz de perceber.
Simplesmente fantástico. Você arrasa amigo.