Vira piada no mundo que perdeu a graça, povoado por pessoas chatas, sem senso de humor. É ironia e ofensa, humor negro ou preconceito travestido de sarcasmo. Pejorativo, depreciativo, a ode ao que consideram ridículo. É a jocosidade com o outro, mas também o surto quando vira motivo de chacota. Precisamos sim nos levar mais a sério!
A risada é nervosa, desengonçada. Não que tenha aprendido a rir de si mesmo, a achar graça da vida e ter a leveza de saber que nada como um dia depois do outro para transformar as quedas em estripulias. O machucado cicatriza e o tombo vem sem a dor, mas isso não é sempre. A risada vem nervosa porque carrega segundas intenções, malícias e medos. O que era graça vira nervosismo e apreensão.
Aprende-se a rir de quem cai, de quem é diferente, de quem ainda não aprendeu como as coisas funcionam e se doam sem cautela. Aprende-se a ouvir as risadas e sofrer calado, a fingir que não é com você, a ignorar e muitas vezes a deixar pra lá. Entende-se que rir é muitas vezes um ataque, uma forma diferente de dizer “eu odeio você”, “eu odeio quem você é” e “eu odeio o que representa”. É “diferença” entendida como “defeito”, como se, de fato, fôssemos nos tornar melhores num mundo de iguais. Santa ignorância!
Vira piada dominar e ser dominado, odiar e ser odiado, sem que entendamos a fundo qual a graça por trás dessa história de atacar quem quase sempre está quieto tentando entender-se normal num mundo que insiste dizer o contrário.
Que fique claro a anormalidade, a insensibilidade, de se divertir às custas dos outros, das dores e situações que não lhe competem. Só quem é parte da piada pode dizer se ela é ou não ofensiva e se seres jocosos (espirituosos e fanfarrões) devem ou não calar a boca antes de profaná-la. Ainda continuamos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos, e também por quem constantemente depreciamos.