Viver de Verdades

O que levaria você a largar tudo – família, amigos, namoro, trabalho… – e começar uma vida do zero à quilômetros de distância meio que sem eira nem beira? É o entorno que não entende as suas necessidades ou o autoconhecimento que gera um comichão lá dentro, algo impossível de controlar? É desprendimento ao que diz o senso comum e que somos educados a entender como certo, adequado e normal?

Pode ser loucura e pode ser fuga… Dos outros e de si mesmo! E, claro, pode ser um encontro: com aquilo que existe de mais verdadeiro lá dentro e que cresceu blindado da censura e dos olhares curiosos, chocados, horrorizados de quem jamais poderia entender. Você no comando e sem medo de ser feliz.

O tempo voa, a vida é curta e não tem muita escapatória quanto ao destino de todos nós. A força de vontade e a determinação definirão como atravessamos isto aqui, seja como protagonistas e “donos desta porra toda”, ou acomodados esperando que o destino cumpra seu papel e seja justo com nossos sonhos.

É mais ou menos sob tantas possibilidades que imagino (e até admiro!) a força de vontade da isralense Olga Babaevaá, que há um mês vive nos limites dos saguões do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Plena e esperançosa de que ficará no Brasil, ela não liga de estar vivendo de caridade carregando de um lado para o outro sua pequena maleta de metal, mochila, travesseiro e coberta enquanto regulariza a situação.

Olga tem três filhos, mas quer ficar.  Ainda que uma família “desesperada” peça o retorno, o desconforto de um aeroporto parece mais apropriado aos desejos mais íntimos dessa mulher.  Mas vamos além: dando um Google, descubro que Olga já esteve por aqui em 2016. Ela viveu nas ruas do Rio de Janeiro, chamou a atenção de entidades judaicas para o seu drama e depois disso foi para o Peru. Preferiu voltar. Numa história que pode simbolizar tudo, da fuga à loucura, de enredo de filme hollywoodiano à decadência da mais nobre das sensibilidades, a materna, Olga mostra sobretudo a força de quem, estranhamente, vive de verdades independente do que estejamos pensando, de como a estamos julgando.

E se tem uma coisa para avaliarmos nisso tudo, antes mesmo da crítica ou da mais pura inveja de tamanha liberdade de escolha, talvez seja o quanto “viver de verdades” pareça algo incomum para seres acostumados a seguir o que manda o script e negar as próprias certezas.

É a coragem que falta a todos nós, uma hora ou outra, de dizer o que pensa, de não ficar subjugado a um relacionamento que não te deixa completo, de sair de um emprego que não te faz mais feliz, de se afastar definitivamente daqueles que não te fazem bem e assim por diante.

A história de Olga Babaevaá em reportagem de OGlobo aqui.

 

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