Eu sempre dedico um tempo a projeções de assuntos que são parte da minha vida. Vira e mexe, vejo o que futurologistas e palpiteiros têm a dizer sobre as nossas relações, a tecnologia que nos engole, a comunicação e, dentro dessa última e com especial carinho, o jornalismo. É bom estar preparado, não é mesmo? Vai que…
Não é raro encontrar por aí alguém sentenciando o fim do jornalismo… E aqui não falo do BOM jornalismo, que diz respeito, no meu entender, mais a onde cada um busca se inteirar do que anda rolando por aí do que, propriamente, sobre o exercício de reportar os fatos.
Sobre jornalismo se decreta: a internet, as redes sociais, a era de robôs e fake news, da informação em excesso e da desinformação em evidência, ambas pulverizadas descontroladamente e o tempo todo sem muito critério, enfim, que tudo isso não dá espaço para a apuração dos fatos, a maturação das evidências e a construção de uma narrativa consistente. Acabou. Estamos perdidos, desempregados, caros colegas.
Sim, tudo mudou e, por isso, temos que mudar também. Embora pareçamos cada vez mais distante daquele jornalismo romantizado em contemplações e masturbações mentais, ele está longe de caminhar para a irrelevância ou cair em desuso. Preso na era das hard news, do instantâneo, e competindo com múltiplas vozes e em diferentes canais (que surgem, moldam, filtram e distribuem de acordo com lógicas pouco confiáveis), cabe a nós, colegas jornalistas, não apenas DESCOBRIR histórias, mas principalmente GARIMPAR verdade e VENCER os limites impostos pela bolha.
Não é o fim, mas um recomeço. A curadoria dos milhares de fatos, de dados, que nos bombardeiam nesta guerra diária de (des)informação, precisará de soldados atentos, ágeis e estratégicos no movimento que fazem por uma sociedade que não se equilibra na mentira, mas que é capaz de vencê-la. E de recomeçar incontáveis vezes.